Um romance e um livro de não ficção; duas mulheres unidas pela nacionalidade, por terem escolhido sair de seu país e por escolherem a escrita como forma de dar novo sentido à suas experiências de vida.
Em comum não apenas o período abordado (o Irã pós revolução -1979- até os dias atuais), mas a capacidade e necessidade de transformar o real em experiência literária.
Lendo Lolita em Teerã
O livro de memórias de Azar Nafisi é simplesmente apaixonante! De forma não linear, a autora relembra seu retorno ao Irã em 1979 após a conclusão de seu doutorado em literatura nos EUA, a luta e decepção com os rumos políticos e sociais de seu país e a forma como a literatura permeou sua vida em Teerã; nas universidades que lecionou e nas relações que estabeleceu com suas alunas até 1997, quando decidiu sair do seu país de vez.
Um livro de não-ficção que nos faz entrar na vida da escritora e de suas alunas de forma intensa e muito bonita também. Parece que estamos ouvindo a autora nos contando seus sonhos, suas emoções e seu amor pelos livros. Em um dado momento eu me sentia na sala de Azar Nafisi junto com Mashid, Manna, Azin, Mitra, Sanaz, Yassi, Nassrin! ;)
As memórias de Nafisi também nos aproximam de forma mais ampla da vida das mulheres no Irã pós revolução de 1979. O relato é rico não apenas em história social, mas por sua crítica literária e pela memória que denuncia a vida em um regime totalitário. A história de vida da autora e de suas alunas é lembrada através dos livros que permearam cada momento vivido e que tornaram possível superar e dar novo significado à vivência permeada de violência, medo e repressão.
O livro é dividido em quatro partes: Lolita, Gatsby, James e Austen.
No início, Nafisi nos conta sobre os encontros do grupo de alunas que reunia secretamente em sua casa para ler e debater obras censuradas pelo regime por volta de 1993 (como Lolita). O grupo se forma depois de Nafisi ter saído da universidade e deixado de lecionar (o que ela contará depois em outras partes do livro).
O amor de Nafisi por Nabokov é contagiante; mas o que ela faz é uma análise de como aspectos da sua literatura tem relação com o que ela e suas alunas viviam em Teerã... E assim em cada parte a autora explora essa ligação entre suas memórias pessoais, os acontecimentos sociais e políticos e a literatura (em especial a inglesa e norte americana, mas em um sentido mais amplo também).
Difícil dizer qual parte do livro é mais interessante; mas ouso dizer que a terceira parte me tocou de modo especial... Nafisi está contando nessa parte o momento da guerra Irã e Iraque e sua referência é Henry James. O paralelo entre as reflexões que o escritor fez sobre a primeira guerra e como ela o transformou e o olhar de Nafisi sobre o Irã é muito interessante e inspirador...
Um livro verdadeiramente imperdível para os amantes de literatura, sociologia e história!
Filhos do Jacarandá
Um livro de não-ficção que nos faz entrar na vida da escritora e de suas alunas de forma intensa e muito bonita também. Parece que estamos ouvindo a autora nos contando seus sonhos, suas emoções e seu amor pelos livros. Em um dado momento eu me sentia na sala de Azar Nafisi junto com Mashid, Manna, Azin, Mitra, Sanaz, Yassi, Nassrin! ;)
O livro é dividido em quatro partes: Lolita, Gatsby, James e Austen.
No início, Nafisi nos conta sobre os encontros do grupo de alunas que reunia secretamente em sua casa para ler e debater obras censuradas pelo regime por volta de 1993 (como Lolita). O grupo se forma depois de Nafisi ter saído da universidade e deixado de lecionar (o que ela contará depois em outras partes do livro).
O amor de Nafisi por Nabokov é contagiante; mas o que ela faz é uma análise de como aspectos da sua literatura tem relação com o que ela e suas alunas viviam em Teerã... E assim em cada parte a autora explora essa ligação entre suas memórias pessoais, os acontecimentos sociais e políticos e a literatura (em especial a inglesa e norte americana, mas em um sentido mais amplo também).
Difícil dizer qual parte do livro é mais interessante; mas ouso dizer que a terceira parte me tocou de modo especial... Nafisi está contando nessa parte o momento da guerra Irã e Iraque e sua referência é Henry James. O paralelo entre as reflexões que o escritor fez sobre a primeira guerra e como ela o transformou e o olhar de Nafisi sobre o Irã é muito interessante e inspirador...
Um livro verdadeiramente imperdível para os amantes de literatura, sociologia e história!
No seu livro de estréia, Sahar Delijani constrói um romance fragmentado inspirada na vivência de seus familiares na resistência no Irã durante três décadas: de 1983 a 2011.
O desenrolar do enredo nos permite
conhecer os dramas de várias gerações com suas diferentes vivências e
percepções: os que viveram a resistência e foram presos, torturados e mortos;
os seus filhos (que muitas vezes foram morar fora do Irã depois), e também os
pais daqueles que eram jovens em 1983 e que cuidaram dos netos que ficaram
longe dos pais.
O primeiro capítulo, por exemplo, nos
apresenta a história de Azari que teve sua filha Neda em 1983 na prisão de
Teerã. O que me impressionou neste capítulo foi como a escrita de Delijani, que
é curta, seca e com momentos de lirismo, me fez entrar integralmente na
vivência e nos sentimentos de Azari. Um primeiro capítulo muito forte e belo!
Entretanto, ao progredir na leitura não me
senti da mesma forma; a estrutura narrativa escolhida por Delijani, fragmentada
em vários aspectos, vai afastando o leitor dos personagens, em vez de
aproximar. Há, eu diria, uma cisão no livro que faz alusão à forma muito
diferente com a qual as distintas gerações experimentaram a violência extrema e
o regime totalitário. Apesar de ficar clara a proposta de Delijani, não
conseguimos nos envolver igualmente em todos os dramas: parece que faltou corpo
ao romance e desenvolvimento dos personagens.
A minha leitura foi muito marcada pelo
fato de ter terminado de ler o livros de memórias de Azar Nafisi e estar
envolvida em toda a história do Irã nesse período; o que foi muito bom. Porém,
do meio para o fim da leitura eu fui me afastando daquela sensação que Delijani
me deixou no início de seu texto; a de conjugar força e beleza em sua escrita.
Um dos momentos que mais gostei do livro é
a descrição da lembrança de uma das passeatas que ficaram conhecidas como
"protestos silenciosos":
"(XXX) se lembra de ver as imagens de
um imenso mar de gente andando em silêncio por uma larga ponte. Num silêncio
tão grande que ela achou que podia ouvir o som das batidas dos corações. Havia
mulheres de véu, homens com lenços verdes amarrados na testa, jovens e velhos,
passando diante do olho perplexo da câmera. Uma comprida bandeira verde
flutuava acima de todos, erguida pela multidão. Depois de alguns instantes, um
trovão irrompeu quando os manifestantes quebraram o silêncio batendo palmas em
uníssono. Houve risos quando estranhos se uniram àquela explosão entusiasmada.
Logo as palmas ganharam impulso, jorrando da tela para dentro da sala, como
pingos de chuva tamborilando no telhado" (pág. 211).
Me arrepiou...
Por último devo dizer que achei belíssima
a capa e a edição de Filhos do Jacarandá.
Em vários momentos da leitura me peguei
admirando e pensando nessa árvore com folhas de borboleta... ;)
Oi Denise, estou louca pra ler Lendo Lolita em Teerã. Com certeza será minha próxima leitura! Obrigada! =))
ResponderExcluirÉ um livro incrível, Raquel! Impossível não amar! rs rs
ExcluirBeijos, querida!