"Enfiei o livro no bolso. E lhes garanto que abandonar aquela leitura foi como ser apartado à força de uma velha e sólida amizade" (Conrad. Coração das Trevas. Companhia das Letras, pág. 63)
Ler Coração das Trevas foi uma experiência marcante! Eu demorei a entrar no livro; mas, quando o fiz, foi difícil me desfazer da força afetiva que a leitura teve sobre mim... tanto que só agora, mais de três semanas depois de terminar o livro, consigo escrever essa micro resenha. É assim que sou: me afasto, para poder me reaproximar de um modo que minha alma absorva o que vivi.
A característica mais marcante dessa obra do Conrad, na minha opinião, é a capacidade de transportar o leitor para uma atmosfera própria que combina fascínio e horror. Interessante que a história é sobre uma viagem e o que o leitor sente é bem próximo às diversas sensações que uma viagem provoca: excitação com o novo, estranhamento, medo, fascínio, vontade de conhecer cada vez mais (o lugar, as pessoas), e, principalmente, um novo olhar sobre si mesmo a partir do conhecimento do outro/ do estranho... (Eu AMO viajar, quem me conhece há mais tempo sabe; e já tive viagens assim meio atormentadas, mas, como o protagonista da trama de Conrad, há algo que me leva a sempre querer viajar, conhecer novos lugares e ver como as pessoas vivem...).
Uma sinopse rápida: o livro trata de uma viagem de barco dentro da África (em um rio) narrada por um capitão inglês (Marlow). A época é a da colonização belga no Congo (o livro foi publicado em forma de fascículos no ano de 1899). Marlow tinha como missão conduzir um barco rio acima na busca de um integrante da Companhia de Comércio imperialista (Kurtz).
Quando você se envolve com o texto, é como se não apenas estivesse lendo a relação do personagem que narra a história (Marlow) com o rio, a floresta, as pessoas que ele encontra por lá e com o outro personagem central da trama (Kurtz); é como se você mesmo entrasse naquele rio tortuoso pelo qual Marlow se embrenha e em trevas que dizem respeito mais à alma humana do que físicas, palpáveis. Concordo com Mario Vargas Llosa que o tema principal do livro é o mal que experimentamos em nós mesmos. De uma forma sutil o binômio civilização e barbárie é questionado e transplantado para os nossos dilemas internos: desejo e repulsa.
Uma sinopse rápida: o livro trata de uma viagem de barco dentro da África (em um rio) narrada por um capitão inglês (Marlow). A época é a da colonização belga no Congo (o livro foi publicado em forma de fascículos no ano de 1899). Marlow tinha como missão conduzir um barco rio acima na busca de um integrante da Companhia de Comércio imperialista (Kurtz).
Quando você se envolve com o texto, é como se não apenas estivesse lendo a relação do personagem que narra a história (Marlow) com o rio, a floresta, as pessoas que ele encontra por lá e com o outro personagem central da trama (Kurtz); é como se você mesmo entrasse naquele rio tortuoso pelo qual Marlow se embrenha e em trevas que dizem respeito mais à alma humana do que físicas, palpáveis. Concordo com Mario Vargas Llosa que o tema principal do livro é o mal que experimentamos em nós mesmos. De uma forma sutil o binômio civilização e barbárie é questionado e transplantado para os nossos dilemas internos: desejo e repulsa.
A edição que eu li é a de bolso da Companhia das Letras. Tem 121 páginas, letra um pouco pequena e traz também o conto Um posto avançado do progresso do próprio Conrad, bem como um comentário sobre as duas obras de Luiz Felipe Alencastro. Apesar de não gostar muito de edições de bolso (por conta da letra!), tenho que reconhecer que esta é muito boa, especialmente por contar com esses complementos.
Também me deparei com um conto de Conrad na obra "Contos de Horror" que estou lendo; o título é A Fera. Aliás, aproveito para comentar que essa seleção de Horror do Manguel é ótima! E o conto do Conrad é um dos melhores dessa coletânea. Para quem curte o gênero vale a pena!
Não sei se o mesmo ocorre com vocês, mas é bem interessante o quanto um novo livro, um novo autor sempre me leva a olhar tudo a minha volta de um jeito diferente (quando a experiência é boa, claro! rs). E, mais ainda: depois de um autor/livro nos marca tão fortemente, é como se passássemos a enxergar mais dele e sobre ele à nossa frente.
Foi assim que lembrei que tinha aqui em casa, no livro "Por que ler os clássicos", um comentário do Ítalo Calvino sobre o Conrad. No breve ensaio, Calvino ressalta que o que o levou a gostar tanto dos capitães de Conrad foi o fato do autor imprimir em seus personagens o "sentido de uma integração com o mundo conquistada na vida prática, o senso do homem que se realiza nas coisas que faz, na moral implícita no trabalho, no ideal de saber estar a altura da situação" (Calvino, Ítalo. Por que ler os clássicos, Companhia das Letras, pág. 182.
Me arrepiei com a capacidade de Calvino em definir tão bem algo que Conrad transparece através dos seus personagens! Essa foi uma das coisas que senti ao ler outras obras do autor e ver, em personagens tão distintos, reflexões próximas. Gosto quando é possível enxergar um eixo de representação da vida através de personas diversas. Conrad definitivamente me conquistou; agora vou a procura de outras obras do autor!
Por fim (que post enorme para variar, rs), li também o ensaio do Mario Vargas Llosa sobre Coração das Trevas no livro "A Verdade das Mentiras" (para saber mais sobre o livro do Llosa e meu projeto literário clique aqui).
Gostei muito do ensaio (e recomendo também)! Llosa escreve sobre a vida de Conrad e como esta se entrelaça com suas obras. Assim, mostra o quanto a ficção permite ir além do que vivemos e lidar com o que vivemos: transformar aquilo que não se pode viver ou entender/aceitar em palavras. Llosa comenta as atrocidades cometidas por Leopoldo II no Congo, à época em que Conrad lá trabalhou como capitão de navio da Sociedade Anônima Belga. De certa maneira, a ficção conradiana denuncia a tragédia humana que um só indivíduo em sua sede de lucro infringiu à milhares de pessoas e não permite que se esqueça a violência da empresa colonial européia. Ou seja, muitas vezes as "mentiras" da ficção permitem trazer à tona as verdades que alguns querem obscurecer.
(Quem se interessar pelo domínio e pela devastação que a exploração comercial do Congo causou através do "rei" Leopoldo II, com número de mortos comparável aos assassinados por Hitler, procure "O Fantasma do Rei Leopoldo" do historiador Adam Hochschild).
Por fim, só me resta deixar aqui algumas frases espirituosas do Conrad que guardei do livro (só as que não comprometem o prazer da descoberta, claro!).
Eu nunca fui "do mar", mas mantenho esse tipo de ligação com muitos amigos e com meus primos que vivem muito, muito longe...
Essa ética do trabalho está muito presente na obra de Conrad, como ressalta Calvino; também me identifiquei e fiquei um bom tempo pensando nisso... A nossa realização pessoal no trabalho e no estudo é uma experiência única e intransferível.
Não sei se o mesmo ocorre com vocês, mas é bem interessante o quanto um novo livro, um novo autor sempre me leva a olhar tudo a minha volta de um jeito diferente (quando a experiência é boa, claro! rs). E, mais ainda: depois de um autor/livro nos marca tão fortemente, é como se passássemos a enxergar mais dele e sobre ele à nossa frente.
Foi assim que lembrei que tinha aqui em casa, no livro "Por que ler os clássicos", um comentário do Ítalo Calvino sobre o Conrad. No breve ensaio, Calvino ressalta que o que o levou a gostar tanto dos capitães de Conrad foi o fato do autor imprimir em seus personagens o "sentido de uma integração com o mundo conquistada na vida prática, o senso do homem que se realiza nas coisas que faz, na moral implícita no trabalho, no ideal de saber estar a altura da situação" (Calvino, Ítalo. Por que ler os clássicos, Companhia das Letras, pág. 182.
Me arrepiei com a capacidade de Calvino em definir tão bem algo que Conrad transparece através dos seus personagens! Essa foi uma das coisas que senti ao ler outras obras do autor e ver, em personagens tão distintos, reflexões próximas. Gosto quando é possível enxergar um eixo de representação da vida através de personas diversas. Conrad definitivamente me conquistou; agora vou a procura de outras obras do autor!
Por fim (que post enorme para variar, rs), li também o ensaio do Mario Vargas Llosa sobre Coração das Trevas no livro "A Verdade das Mentiras" (para saber mais sobre o livro do Llosa e meu projeto literário clique aqui).
Gostei muito do ensaio (e recomendo também)! Llosa escreve sobre a vida de Conrad e como esta se entrelaça com suas obras. Assim, mostra o quanto a ficção permite ir além do que vivemos e lidar com o que vivemos: transformar aquilo que não se pode viver ou entender/aceitar em palavras. Llosa comenta as atrocidades cometidas por Leopoldo II no Congo, à época em que Conrad lá trabalhou como capitão de navio da Sociedade Anônima Belga. De certa maneira, a ficção conradiana denuncia a tragédia humana que um só indivíduo em sua sede de lucro infringiu à milhares de pessoas e não permite que se esqueça a violência da empresa colonial européia. Ou seja, muitas vezes as "mentiras" da ficção permitem trazer à tona as verdades que alguns querem obscurecer.
(Quem se interessar pelo domínio e pela devastação que a exploração comercial do Congo causou através do "rei" Leopoldo II, com número de mortos comparável aos assassinados por Hitler, procure "O Fantasma do Rei Leopoldo" do historiador Adam Hochschild).
Por fim, só me resta deixar aqui algumas frases espirituosas do Conrad que guardei do livro (só as que não comprometem o prazer da descoberta, claro!).
"Entre nós havia, como já disse em algum momento, o laço do mar. Além de manter os nossos corações unidos apesar de extensos períodos de separação, ele tinha o efeito de nos tornar tolerantes às longas histórias - e mesmo às convicções - uns dos outros".
(Conrad. Coração das Trevas. Companhia das Letras. pág. 9)
Eu nunca fui "do mar", mas mantenho esse tipo de ligação com muitos amigos e com meus primos que vivem muito, muito longe...
"Prefiro me entregar à preguiça e ficar só pensando em todas as coisas que podem ser feitas. Não gosto do trabalho - ninguém gosta - mas gosto do que o trabalho proporciona - a oportunidade de se encontrar. A sua própria realidade - para você, não para os outros - que nenhum outro homem terá como conhecer. Os outros só enxergam a mera aparência, e jamais sabem o que a pessoa de fato pensa" (Conrad. Coração das Trevas. Companhia das Letras, pág. 48)
Essa ética do trabalho está muito presente na obra de Conrad, como ressalta Calvino; também me identifiquei e fiquei um bom tempo pensando nisso... A nossa realização pessoal no trabalho e no estudo é uma experiência única e intransferível.
"É estranho como as mulheres não tem contato com a realidade! Vivem num mundo à parte; nunca existiu mundo semelhante, nem jamais poderá existir. É lindo demais em todos os aspectos, e se alguém fosse construí-lo haveria de se espatifar antes do anoitecer do primeiro dia. Alguma coisa execrável, com que nós homens nos conformamos a viver desde o dia da criação, haveria de entrar em ação e derrubar aquilo tudo por terra" (Conrad. Idem. pág. 23)
Leia mais de uma vez antes de chamá-lo de preconceituoso e etc (uma vez que o fundamental certamente não é uma questão de gênero!). Eu, que sou uma pessoa de extremos, ora vivo na idealização de um mundo e de uma humanidade perfeitos, ora convivo com essa certeza da presença do execrável... Ah, ainda bem que a literatura nos salva de nós mesmos e do desespero advindo de nossa condição finita! ; )
Beijos e saudades de papear aqui com vocês! Como acredito vocês já perceberam, está difícil manter uma disciplina de posts por aqui... Mas é muito bom compartilhar a vida mesmo que em breves momentos!
Beijos e saudades de papear aqui com vocês! Como acredito vocês já perceberam, está difícil manter uma disciplina de posts por aqui... Mas é muito bom compartilhar a vida mesmo que em breves momentos!
Isso é o que chamo de escrever bem! Eu não conhecia a obra, mas por sua descrição e trechos que reproduziu, fiquei interessada. Próxima visita a livraria...me aguarde!
ResponderExcluirBjins!
Saudades também.
Puxa que legal seu comentário. Vai para a minha lista certamente. Beijos.
ResponderExcluirOi Lisi,
ResponderExcluirobrigada!
Esqueci de falar no post que o filme "Apocalipse Now" foi inspirado nessa obra do Conrad, vc já viu?
Espero que vc goste! ; )
Beijos!
Magali,
ResponderExcluirobrigada! É uma delícia falar de livros e fico feliz de recomendar os que gosto muito!
Abraços!
Esse livro é incrível!
ResponderExcluirLi num Natal, enfiada numa pousada em Penedo.
Ótima dica!
Brijão!
Aline,
ResponderExcluirmuito incrível mesmo: temos gostos bem parecidos para leitura eu acho! ; )
Beijos!
D, gostei da sua resenha! Fiquei interessada no livro, mas agora ando obcecada pelo Millenium... (rs) Culpa sua, claro!
ResponderExcluirBeijos
Dáf,
ResponderExcluirObrigada!
E eu tb fiquei obcecada na época que li a trilogia millenium, kkkk!
Beijos e boa leitura!
Denise,
ResponderExcluirtd bem?
Não sei se lembra de mim, sou a Clarissa que mora no Ingá.
Vi que adquiriu uma máscara da Mary Kay. Agora sou consultora Mary Kay.
Quando quiser experimentar outros produtos só entrar em contato cmg.
Bjs
clarissaguedes@hotmail.com
Clarissa,
ResponderExcluirlembro sim! Que bom, vou entrar em contato sim, amo a mary Kay! rs
A minha amiga que revendia deixou de revender e fiquei só com o ebay mesmo de oportunidade.
Obrigada pelo contato!
Beijos!