O título deste post é totalmente inspirado
em 16
things you didn't know about Chimamanda Adichie.
A ideia me cativou, pois eu queria fazer
um texto diferente sobre esta escritora nigeriana que eu tanto admiro! ;)
Conheci Chimamanda no ano passado e li com
sofreguidão seus dois romances publicados: Hibisco Roxo (vencedor
do Commonwealth Writter's Prize e do Hurston/Wright Legacy, 2003) e Meio
Sol Amarelo (vencedor do Orange Prize e do National Book Critics'
Circle Award, 2007); só que li na ordem inversa de produção, rs.
Junto com Mia Couto e Ondjaki, Chimamanda
me abriu o olhar e a mente para uma nova literatura, para um mundo novo.
Foi através de seus livros que passei a dar mais atenção à literatura africana;
hoje indispensável na minha vida, mas até então quase desconhecida e
inexistente no meu curriculum de leitora...
Eis que venho dividir com vocês as 16
coisas que eu sei sobre a escrita (e a vida) de Chimamanda Ngozie Adichie - e
porque eu acho que os livros dela são absolutamente imperdíveis!
1. Meio Sol
Amarelo (MSA) é um romance belíssimo sobre sobrevivência,
descoberta, escolha e manutenção de identidades em meio à guerra e à
violência extrema.
2. A estrutura narrativa
tripartite de MSA permite olhar uma sociedade e as pessoas que
nela vivem, com suas diversas características culturais e históricas, sobre
prismas diferenciados, multifacetados e profundos. O livro questiona o olhar
simplista e os perigos de ver um povo, uma vida, uma cultura e mesmo uma guerra
sob um único olhar (Tema que ela trata de forma muito interessante na palestra
"O Perigo de uma história única"; não viu? Então veja abaixo correndo!!! ;)
3. Ugwu, Olanna, Odenigbo,
Kainene e Richard - os personagens centrais de MSA -
não vão te deixar dormir sem lembrar de suas vivências, dores, aspirações e
esperanças... São todos inesquecíveis; mas Ugwu e Olanna são
meus preferidos; eu praticamente vivi e dormi junto com eles por duas semanas
seguidas. ;)
4. Nesta obra (MSA)
nos deparamos com três personagens chave que são como "tipos ideais"
escolhidos pela autora para tratar das consequências devastadoras da guerra:
Ugwu é um garoto vindo de uma aldeia pequena e que condensa a tradição e a
identidade da sua etnia; Olanna é a nigeriana de classe média alta que estudou
na Inglaterra e decide voltar para o seu país e participar ativamente de sua
reconstrução e Richard é um inglês intrigado pela cultura e pela história
nigerianas que não tem desejos de manter suas raízes e sim de criar novas. Mas
é claro que estes personagens são muito mais; a tentativa de tipificá-los não
visa simplificar e sim entender o ponto de partida de Chimamanda.
5. Todos estes personagens,
bem como os demais de MSA, trazem à tona o conflito central do
livro: as supostas fronteiras ou os limites entre o étnico, o nacional,
o estrangeiro e o humano. A delimitação de identidades através da origem, da
história política e social, da ideologia e das crenças e valores; contraposta à
unificação do diferente através da humanidade, do amor e do perdão.
6. Entretanto, essa
temática (bem como a discussão de fundo de colonização e barbárie), por si só
densa e difícil, aparece no livro de Chimamanda a partir da vivência de seus
personagens e não de forma direta; o que torna a leitura muito, muito mais
palatável, reflexiva e envolvente. A guerra, a dor e o questionamento da
realidade ganham carne e substância a partir dos dilemas e escolhas diárias de
Olanna, Ugwu e Richard.
7. Em nenhum outro livro
que eu tenha lido recentemente vi os temas da fome, da guerra sem
sentido e o da violência extrema serem tratados de
forma tão forte, realista e, ao mesmo tempo, tão humana quanto em MSA.
A escrita, o enredo e os personagens de Chimamanda conseguem isso de uma forma
única e muito interessante.
8. MSA também
é muito interessante por outros recursos narrativos e pelos elementos
históricos que recupera da guerra civil na Nigéria; mas falar aqui sobre eles
estragaria a experiência da leitura, o que considero imperdoável. É
preciso ler Meio Sol Amarelo; acredite: é impossível continuar o mesmo depois
da imersão neste mundo!
9. Chimamanda nasceu em
1977; tem 35 anos, é casada, mora parte do ano nos Estados Unidos onde leciona
e outra parte na Nigéria e já publicou dois romances e um livro de contos. (e
eu também - apenas a parte de ter nascido em 1977, claro! Ano fantástico esse, hein? rs).
10. Hibisco
Roxo (HR) é um romance primoroso onde a descoberta do amor, a vivência
da dor e da incomunicabilidade se interpenetram em uma história belíssima.
11. Em HR acompanhamos Kambili, uma jovem nigeriana de 15 anos, em sua jornada de profundas transformações no seu modo de perceber o mundo ao seu redor. É o desabrochar de uma flor, mas não uma flor como as outras... E sim uma flor rara e linda como o hibisco roxo...
12. Neste seu primeiro romance, Chimamanda não utiliza recursos narrativos variados: a narração em primeira pessoa de Kambili com o seu desabrochar para a realidade é o maior deles. Fora isso, o enredo contribui bastante para cativar o leitor que tem em mãos novamente (de uma forma completamente diferente) a possibilidade de reflexão sobre os efeitos dramáticos da colonização na Nigéria, a devastação das tradições locais e suas consequências sociais e políticas (não tomadas no plano estatal, mas sim no plano individual; ou seja, no que diz respeito às pessoas comuns).
13. Ngozie, o nome do meio
de Chimamanda, quer dizer abençoada.
(E
Mercedes, o meu nome do meio, quer dizer "dar graças", perdão; ou
seja, outra coisa que temos em comum - Chimamanda é abençoada e eu dou graças
por mulheres como ela no meu mundo ;)
14. Ouso dizer que os livros
de Chimamanda Adichie são como flores para a alma; necessários para retomar em
cada um de nós uma das questões mais profundas que nos deparamos ao longo da
nossa existência - o que podemos fazer com o que recebemos na nossa vida, na
nossa história pessoal? O que queremos ser apesar de, ou melhor,
independentemente do que as circunstâncias nas quais vivemos nos impelem?
Ou
seja: para refletir sobre o que escolhemos ser, acreditar e como podemos agir
no mundo ao nosso redor. Questionamentos estes que são
inescapáveis e que eu quero me fazer e responder a cada momento em que elas se
colocam na minha vida. E quando a literatura me permite continuar pensando,
elaborando e respondendo à estas e outras perguntas; aí é que amo mais ainda
esta arte única que é a de escrever estórias e agir através delas na história
humana.
15. Comecei a ler os contos
de Chimamanda no livro The Thing Around your Neck e
posso dizer que as grandes virtudes de sua escrita e seus eixos temáticos
principais estão lá em cada história curta e, principalmente, na escolha de
personagens e situações vividas.
16. Por último, só tenho a
dizer mais uma coisa:
Chimamanda,
queremos mais, MUITO mais!
;)
Mais uma escrito para a lista :D Comecei com a vontade ler autores Africanos esse ano! Essa característica tríplice do livro dela me intrigou muito!
ResponderExcluirExcelente post Denise! ; )
Abraços
Filipe, vc TEM que ler Meio Sol Amarelo!!! ;)
ExcluirBeijos!
É como sempre digo, é impossível a gente não se apaixonar por um autor e ou obra quando é você quem fala dele e com tanto sentimento! ;)
ResponderExcluirO meu HR está na minha prateleira e logo logo compartilharei as minhas sensações contigo também! ;)
Xerinhos, frõ!
Paty
Dene,
ResponderExcluirsuas resenhas nos deixam com água na boca.
beijos
Oi Dene,
ResponderExcluirSuas resenhas nos deixam com água na boca...
beijos
Obrigada, querida! ;)
ExcluirSempre muito bom te ter por aqui!!! Beijos!
Por conta desse post adicionei dois livros da autora à minha estante dos desejos... obrigada!
ResponderExcluirOi Manu: dificilmente vc não vai gostar dos livros da Chimamanda!
ExcluirObrigada pelo comentário! Abraços!
Que bom encontrar mais pessoas que gostam desta escritora maravilhosa. Em Portugal publicaram a tradução do livro de contos. Veja no meu post em http://literaturasafrikanas.blogspot.pt/2012/08/chimamanda-ngozi-adichie-3.html
ResponderExcluirAbraços
Muito bom mesmo, Raya!
ExcluirVou visitar seu blog sim!
Desculpe pela demora. Já lançaram o novo romance dela por aí?
Abraços e bem- vinda!
Ei! Li os livros Hibisco Roxo e Meio Sol Amarelo no início de 2013 e amei. O texto é lindo e leve, mesmo tratando de temas tão pesados. Chorei muito nos dois livros e saí da leitura com muitas coisas na cabeça.
ResponderExcluirGostei muito do seu post!
Bjo
Obrigada, Aline!
ExcluirEu também chorei muito... Agira estou aguardando lançarem aqui Americana! ;)
Desculpa a demora em responder.
Abraços!
Oi, Denise!
ResponderExcluirAdorei saber um pouco mais sobre a escritora. Já ouvi falar muito sobre suas obras e aproveitei essa última promo do Walmart para comprar Hibisco Roxo. Não vejo a hora de ler!
bjo
Michele,
Excluirvocê fez uma EXCELENTE compra!
Eu estou com uma saudade da delicadeza e profundidade da escrita de Chimamanda...
Um livro para ler e reler no futuro: muito belo!
Abraços,
Muito feliz em encontrar mais leitores lusófonos que admiram e leem essa escritora maravilhosa que abriu meus olhos e, mais do que isso, minha sensibilidade para a literatura africana, hoje também indispensável na minha vida.
ResponderExcluirAnsiosa para ler Americanah, o livro novo, já leu?
ResponderExcluir