domingo, 18 de dezembro de 2011

Mesa de cabeceira: "A Rainha do Castelo de Ar"



Capa da versão "econômica" da Cia das Letras!

A Rainha do Castelo de Ar é o terceiro livro da trilogia Millennium, escrita pelo sueco Stieg Larsson. Infelizmente o autor morreu logo após a entrega do terceiro livro para a editora (e deixou uma família brigando pelos direitos autorais de sua obra que virou best seller mundial, foi adaptada para a telona por diretores suecos e agora se tornará filme também em Hollywood... duplamente triste a morte e a briga!). Dizem que Stieg deixou quase 300 páginas do livro que viria a ser o quarto da série e que existe a possibilidade da mulher dele terminar e publicar este volume. Vamos ver...

Para os amantes de literatura policial, esta trilogia é um prato cheio! 

Eu li o primeiro livro com um pouco menos de frisson, digamos assim, pois já tinha visto o filme sueco  inspirado neste volume inicial (traduzido aqui como "Os homens que não amavam as mulheres"). Porém, o segundo livro eu devorei em menos de uma semana! Até agora, considero o segundo da série, A menina que brincava com fogo, o melhor livro dos três, irresistível!

No momento, estou lendo A Rainha do Castelo de Ar bem lentamente: em parte porque estou muito focada trabalhando e em parte porque não quero que acabe! Sabe quando você começa a se sentir órfão dos personagens, do lugar, da trama e de toda a imaginação que você foi construindo ao ler o livro? Estou já assim, e olha que ainda faltam umas 400 páginas, rs.

Aliás, acho que esse é um dos motivos pelos quais eu adoro continuações.... Eu me apego demais aos personagens quando gosto de um livro! Eu me divirto criando as imagens de cada um deles na minha mente, fico matutando também qual será o desfecho de cada um... Enfim, quem é leitor compulsivo sabe como é se apaixonar assim pela imaginação que a gente constrói a partir das palavras do outro e o quanto é bom! = )

Abaixo uma das edições mais legais que encontrei da trilogia: a da tradução inglesa.

Adorei essas capas!


Eu não vou falar do enredo de cada um dos livros (até porque tem milhões de resenhas já que estou super atrasada, rs); mas sim do meu interesse pessoal e dos motivos pelos quais acho que a ficção tratada em Millennium transcende as 1800 páginas do conjunto da trilogia. Com isso, quero poder convidar os possíveis leitores a admirar a obra e a reflexão por trás da mesma.

Eu adoro literatura policial, suspense, mistério e horror. (Também gosto de ficção científica, romances, mas não vem ao caso, rs). Mas, para além disso, eu gosto muito de livros que agregam a um gênero específico uma temática política e/ou caráter jornalístico. Isso tem clara relação com meus interesses mais gerais na vida: sou cientista social e estou me especializando em ciência política.
Aliás, um último dado importante sobre minha relação com a literatura: eu fui "formada" como leitora a partir dos romances políticos e sociais de escritores latino americanos. ; )


Voltando ao tema principal: nessa série, Stieg Larsson faz uma ficção policial no melhor estilo mesclada com elementos políticos e jornalísticos que dão um tom muito realista à história!

A temática principal - violência contra mulheres, bem como a estigmatização de minorias ou grupos politicamente marginalizados em geral - é tratada em meio a investigações jornalísticas e policiais nas quais os personagens principais se envolvem. De formas diversas, os dois protagonistas - Mikael Blomkvist, um jornalista, e Lisbeth Salander, uma hacker – se deparam com abusos de muitos tipos cometidos contra mulheres e os vários olhares sobre esta realidade no passado e no presente.

Eu não gosto de adiantar muito a história, ou mesmo características dos personagens; pois acho que a arte da leitura é justamente ir formando uma visão pessoal dos personagens e da trama. O autor tem a sua própria imaginação e uma finalidade ao escrever o livro; mas o leitor também tem, na sua apreciação pessoal, uma relação afetiva e criativa muito interessantes com o texto!
Cada leitor, de certa forma, cria algo também a partir do que ele lê e é por isso, aliás, que uma obra escrita nunca morre, está sempre viva e em movimento a partir da mente dos seus leitores...

Sendo assim, quero apenas chamar a atenção para uma última característica mais geral dos livros do Larsson: o modo como é bem feita toda a união de tramas paralelas, e como drama de cada uma delas é sempre algo relacionado com uma realidade social e política mais ampla. Em resumo, na minha visão, a leitura da ficção apresentada em Millennium nos permite refletir como os dramas pessoais e sociais estão fortemente relacionados e como, a partir da empatia que nos gera a dor ou o imponderável vivido pelo outro é possível sempre uma ação e uma transformação (senão na própria realidade, ao menos em nós mesmos!).

Não é só quem gosta de policial ou de suspense que vai gostar desta série. Também não é só uma leitura prazerosa; é uma história da qual não saímos ilesos. Impossível não pensar no drama da violência contra a mulher hoje; nos diversos tipos de preconceito e seus efeitos na vida das pessoas; no horror que é a violência ideológica sancionada pelo Estado. Impossível não trazer algo para dentro da nossa vida e da nossa prática!

Por tudo isso é que eu recomendo a leitura da série e convido os leitores a se manifestarem nos comentários sobre suas impressões e reflexões com esta trilogia!

Por último, sobre os filmes com elenco e produção suecos, recomendo assistir ao filme do primeiro livro! É muito melhor que o do segundo, sem sombra de dúvida!!! (O terceiro ainda não vi!: ). Como adaptação de um livro com quase 600 páginas, é claro que deixa muita coisa de fora; mas é um bom filme.




(Me irritou um pouco a tradução dos títulos dos livros/filmes para o português. O primeiro, por exemplo, traduzido literalmente seria: A garota com a tatuagem de dragão. Por quê precisa mudar tão radicalmente? Não gosto disso não!)

Agora, uma das coisas que mais gostei neste filme foi VER a Lisbeth Salander. Ainda que a atriz sueca (Noomi Rapace) que a interpreta seja um pouco apagada; a personagem é tão complexa e intrigante que vale a pena ver uma tentativa de caracterização na telona. E a Noomi é linda; de uma beleza meio etérea, eu diria.

O tal do Dragão...


Não dá para ver bem, mas é um escândalo de tatuagem, rs!

A personagem Lisbeth tem sérias questões com sua imagem e com o relacionamento com os outros. Além disso, grande parte da obra gira em torno também da dificuldade que as pessoas tem em enxergar a beleza e a singularidade de cada ser humano por trás dos estereótipos sociais. Então é bem interessante toda a transformação e caracterização da personagem na tela!

Abaixo o cartaz do filme que eu achei bem bonito também:

Capa do primeiro filme da série

Noomi na première do filme em Paris: não é linda?

E vocês: já leram, gostaram?


Beijos!



PS: Interessante também foi descobrir na história pessoal do autor do livro experiências de vida que o levaram a ter tanto interesse na violência e na desigualdade de gênero em seu país! Stieg era jornalista de profissão; daí também se entende um pouco o estilo de escrita do autor, que muitas vezes tem um caráter descritivo diferente e de jornalismo investigativo forte. (Para quem quiser ler um pouco mais sobre a história de vida do Larsson: clique aqui).