sexta-feira, 1 de novembro de 2013

As 20 primeiras páginas... [Lendo Lolita em Teerã]

Outro dia estava conversando com a Luara e ela saiu com essa: "Li as 20 primeiras páginas e resolvi comprar o livro...". Fiquei curiosa e perguntei se ela fazia isso sempre; eu acho que não conseguiria ler 20 páginas, gostar, parar a leitura e refazer o percurso com outro livro, rs. Por outro lado, a ideia ficou martelando na minha cabeça e hoje resolvi testar não para escolher um livro para comprar e sim para escolher a próxima leitura.

Ando com TANTOS livros interessantes aqui para ler que escolher o que ler no momento tem sido cada vez mais difícil! Além disso, gosto de ler vários livros ao mesmo tempo de gêneros diferentes... ;)

Bom, selecionei alguns dos livros que chegaram aqui e outros que sei que quero ler em breve...  intercalei um novo e um antigo (no sentido de que já tenho há algum tempo na estante). A pilha ficou enorme! kkk
No topo, deixei o Lendo Lolita em Teerã. Além de entrar na categoria "estava esquecido na estante esperando por mim", ele é edição econômica e venho também incorporando essa regra na minha vida: ler meus livros de bolso e passar para frente. 

No mais devo dizer que eu sabia que precisava de um livro que me inspirasse (é, a vida está meio cinza estes dias, rs). Abri o Lendo Lolita...



Sabe quando o livro te conquista desde a epígrafe? ;)

Parte da sinopse, para quem não conhece: "A autora iraniana Azar Nafisi nos conduz à intimidade da vida de oito mulheres que precisam encontrar-se secretamente para explorar a literatura ocidental proibida em seu país. Durante dois anos, antes de deixar o Irã, em 1997, Nafisi e mais sete jovens liam em conjunto Orgulho e preconceito, Madame Bovary, Lolita e outras obras clássicas sob censura literária. A narrativa de Nafisi remonta aos primeiros dias da revolução islâmica liderada pelo aiatolá Khomeini (1979), quando ela começou a lecionar na Universidade de Teerã, em meio a um turbilhão de protestos e manifestações."

Prossegui...


< 3

E quando o livro te chama para ser testemunha? Tem como negar?



Não precisei chegar até a página 20! Desde o início, eu já tinha certeza que queria entrar na sala junto com as alunas de Azar Nafisi, queria conhecer suas histórias de vida e suas experiências de leitura, queria testemunhar suas dores e não as largaria de jeito algum!

Agora o difícil é ver a pilha de próximas leituras e achar que consigo fazer novamente a escolha através dessa técnica... ;(
Por outro lado, é muito bom saber que tenho livros ótimos me esperando na estante, na mesa de cabeceira, na sala... em resumo: na casa inteira e no mundo lá fora também, rs... 





E vocês, costumam ler a parte inicial do livro para decidir se compram/lêem ou não? O que acham dessa ideia?

Abraços e ótimo final de semana!



terça-feira, 29 de outubro de 2013

Tess Gerritsen e a série policial Rizzoli e Isles - leitura de novembro para o fórum!

Conheci Tess Gerritsen através de uma indicação da minha chefe (na época) em 2005 ou 2006. Costumo dar muito crédito quando pessoas que me conhecem bem acreditam que vou me identificar com a leitura. E com esta indicação em especial a experiência foi muito boa!

Comecei pelo famoso O Cirurgião e não parei mais. Se antes eu já gostava do gênero suspense policial, pude perceber que o chamado suspense médico também me agrada ainda mais. ;)

Tess, nome escolhido por Terry Gerritsen, nasceu na China em 1953, mas emigrou bem pequena com sua família para os Estados Unidos, onde vive até hoje. Formou-se em medicina e exerceu a profissão apenas até ter certeza que sua vocação era outra: a escrita. ;)

A autora conheceu o sucesso de vendas e de crítica com Harvest, publicado em 1996. Esta é a sua primeira aventura no subgênero que a consagrou: o thriller médico. Desde que começou a escrever, Tess produziu 26 livros de ficção; todos na área do suspense, e 17 deles suspenses "médicos". 

Com O Cirurgião, de 2001, a escritora alcançou sucesso mundial e hoje está traduzida em mais de 30 línguas. A partir desse livro, Tess inicia uma série que conta com duas personagens principais: Rizzoli, a policial, e Maura Isles, a médica legista. São estes os livros dela que eu adoro! ;)



Livros da Série Rizzoli & Isles publicados no Brasil na ordem de escrita:
O Cirurgião (escrito em 2001)
O Dominador (2002)
O Pecador (2003)
Dublê de Corpo (2004)
Desaparecidas (2005)
O Clube Mephisto (2006)
Relíquias (2008)
Gélido (2010)

Além destes, Tess publicou recentemente mais um que ainda não chegou por aqui e que já desejo muito ler!!! (The Silent Girl, 2011)

Li todos os livros da série Rizzoli & Isles publicados no Brasil e meus preferidos são: O CirurgiãoDesaparecidas, O Clube Mephisto e Gélido. (Dublê de Corpo também é muito bom e, por ser o primeiro centrado em Isles, também figura nos meus preferidos! ;)

Uma das características que mais gosto nos suspenses de Tess dessa série é a forma como ela entrelaça aspectos da vida e da psicologia individual das suas duas personagens principais no contexto da investigação dos crimes. E é por isso, aliás, que acho que a série é muito melhor quando lida na ordem; de modo algum sugiro que se leia um dos livros do meio ou fim primeiro: perder a conexão é perder parte da graça da série.


Tess também é especialista desfechos e em cenas finais; a escrita dela mantém a tensão e o suspense em vários momentos do livro; mas os finais são (quase) sempre cheios de adrenalina! Fora isso, gosto muito das suas ideias para os crimes e as relações dos mesmo com mazelas sociais. Os meus livros preferidos são aqueles que acho melhor executados em termos justamente da conexão entre o fundamento do suspense (o fio condutor), enredo e entrelaçamento com as histórias pessoais de Rizzoli e Isles.

Entretanto, sua escrita não é uniforme (até porque ela escreve um livro por ano, gente!) e, em alguns livros, acho que ela exagera nos clichês e no tratamento dado a alguns aspectos ligados às personagens título da série. Em outros, a caracterização dos demais personagens envolvidos não é tão bem feita (como em Relíquias). Mas nada disso ofusca o brilho de Tess: a cada lançamento novo da série eu corro na livraria e ela tem toda minha atenção por uns dois dias de leitura reconfortante. =D

Agora preciso compartilhar uma coisa com vocês: odiei com todas as minhas forças a série de TV feita pela Fox "inspirada" nos livros da Tess! Nossa, eles conseguiram arrasar com Rizzoli e Isles e descaracteriza-las completamente transformando-as em caricaturas de barbies do suspense médico. O verdadeiro horror, o horror... Fujam!

Já li também outros suspenses de Tess como O DelatorO Jardim de Ossos e Life Support. Destes eu não gostei em absoluto apenas de O Delator que não é um suspense médico e eu achei muito fraco o enredo (apesar de partir de uma ideia interessante).

Para os amantes de suspense médico ou de suspense em geral, deixo a recomendação: confiram o trabalho de Tess Gerritsen começando por O Cirurgião. Serão horas de prazer literário e forte tensão garantidas; coisa que amamos muito, não é mesmo? ;)

E para quem precisa de um incentivo maior: O Cirurgião é o livro de debate do mês de novembro do Fórum Entre Pontos e Vírgulas! Esperamos vocês para o debate a partir do dia 20/11 no blog do fórum.

Abraços!

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Sete dias em River Falls de Alexis Aubenque

Quais os ingredientes de um bom romance policial?

Creio que eles variam para cada leitor, mas temos de reconhecer que o mistério (a tensão), o carisma dos personagens (especialmente os investigadores), a motivação para o crime (e com ela a exploração dos aspectos psicológicos do assassino ou das mazelas sociais) e o enredo são elementos que procuramos em livros deste gênero. Certo?

Pois Sete dias em River Falls é um exemplo de policial que me cativou do ponto de vista do desenvolvimento dos personagens (que são muitos!) e pela capacidade de manter a tensão.

Uma questão que eu já gostei logo de cara foi o fato do escritor limitar a trama aos sete dia do título (rs). Os dias vão passando, o enredo crescendo e a tensão se mantém; o que me levou a devorar o livro em um único dia para chegar a solução do caso! ;)

No primeiro dia, somos apresentados ao crime: o assassinato brutal de duas garotas que cursavam a Universidade local, e à movimentação em torno do fato em uma cidade relativamente pequena. O xerife de River Falls, Mike Logan, assume o caso com ajuda de membros da sua ex-equipe de trabalho em Seattle: o legista Nathan Blake e a psicóloga forense Jéssica Hurley. Ao mesmo tempo em que a dinâmica da investigação vai se desenvolvendo, acompanhamos a reação de Sarah Kent, estudante da universidade local, aos assassinatos e de toda sua "turma". Essa dinâmica dupla se desenrola até o final do livro: acompanhamos a investigação e as reações e vivências dos estudantes, bem como de outros personagens da cidade que vão aparecendo ao longo da trama.

Como falei no início, uma das coisas que mais me atrai em um policial é o desenvolvimento dos personagens - investigadores e esse também foi um aspecto que eu gostei na trama de Aubenque: Mike Logan é o policial que cansou da violência da cidade grande (Seattle) e fugiu de uma relação amorosa com Jéssica Hurley (sim, a psicóloga forense que vem para River Falls ajudá-lo!!!). Enquanto Hurley é racional e serena, Logan está visivelmente abalado desde a descoberta do crime: um serial killer em uma cidade pequena como RF é tudo o que ele não esperava quando se tornou sherife. Aos poucos vamos descobrindo que sua irritação passa também por memórias de um caso do seu passado em Seattle (não resolvido?) que envolve a agente Hurley... (ótimo gancho para o próximo livro da série! rs).

Outra coisa que Aubenque faz que chama a atenção é a capacidade de ir desenvolvendo o enredo sempre explorando aspectos distintos de acordo com o personagem envolvido. Alguns dos temas abordados: a relação da imprensa com casos de serial killers / violência, as diferentes estratégias de "sobrevivência" e relações amorosas no meio universitário, a ação da polícia (questionada de um ponto de vista ético), os estereótipos sociais e seu caráter nocivo para o estabelecimento de relações humanas.

Enfim, "Sete dias em River Falls" é um daqueles suspenses que vale a pena tanto como entretenimento, quanto como uma leitura que nos intriga por lançar várias questões relevantes sobre a forma como os crimes se relacionam com práticas impulsionadas pela estrutura social.

Falei das minhas impressões desta leitura também em vídeo: para ver é só clicar aqui!


Abraços!

*Ganhei esse livro de presente para conhecer o Selo Vertigo da Editora Autêntica. Agradeço pela atenção, Sabrina! 

domingo, 25 de agosto de 2013

Ricardo Lísias (Parte 1 - O Céu dos Suicidas)

Ricardo Lísias é paulista, tem 38 anos e publicou cinco romances e mais diversos ensaios, crônicas e contos em vários meios. Eu li O céu de suicidas no início deste ano e, recentemente, fui arrebatada por seu último romance. O texto abaixo trata da minha primeira experiência com o escritor paulistano (foi escrito originalmente para o extinto Blog 365 escritores) e amanhã falarei um pouco das impressões de leitura do angustiante Divórcio.


Resolvi escrever este post de uma maneira diferente. A proposta é desenvolver um diálogo possível com Lísias a partir de trechos do seu livro O Céu dos Suicidas (sem spoilers, claro!) e de uma palestra/conversa que o autor deu em 18 de abril de 2012 (publicada  aqui no Jornal Rascunho).

Os trechos em azul marinho são retirados da fala de Lísias no encontro publicado no Rascunho e os trechos em roxo são partes do romance (O Céu dos Suicidas: Editora Alfaguara, 2012); os demais são minhas tentativas de conversar com este autor que me intrigou bastante e que convido vocês a conhecer através deste inusitado texto.

Antes de começar, porém, é preciso falar um pouco sobre O céu dos suicidas. O ponto de partida do livro é o suicídio de um grande amigo de Lísias; o resto é ficção. O elemento central da narrativa é o personagem principal: o cara que perdeu um amigo que se suicidou tentando lidar com isso. E o texto; bom, o texto é ótimo! Em uma situação na qual não temos controle em absoluto sobre nada; na qual a dor, a raiva, a angústia tomam conta; em uma situação assim como podemos seguir vivendo? Essa é a pergunta; e o personagem de O céu dos suicidas vivencia uma verdadeira odisseia pessoal que vai te prender da primeira à última linha.

 "Desde que tudo isso começou, tenho percebido que sentir saudades significa, em alguma parcela, arrepender-se"
"Até o suicídio do meu grande amigo André, nunca tive vontade de voltar atrás com nada. Agora, comecei a sentir saudades de tudo."

Um dos primeiros elementos do texto que me chamou atenção foi a ideia de saudade evocada pelo autor.
Afinal: o que é sentir saudade? Em parte, relacionar saudade com arrependimento foi um choque para mim. Porque saudade não envolve, à primeira vista, culpa e sim uma miríade de sentimentos positivos. Temos saudade porque foi bom, temos saudade porque foi único; porque nos deu alegria, júbilo, e porque acabamos romantizando e recriando a situação (ou a pessoa) dentro de nós. Ter saudade é querer perpetuar algo muito bom que não temos mais.

Mas aí vem o Lísias e nos dá esse primeiro "tapa": ter saudade também é arrepender-se e lidar com o fato de que, de alguma maneira, você perdeu o que tinha (seja uma pessoa, seja uma situação ou algo em você mesmo...). Ter saudade é ter essa falta, esse arrependimento: essa vontade de ter de volta algo que já tivemos...
E sim, agora a saudade que eu sinto de uma vida que não vivo mais ficou muito mais presente dentro de mim... Ter saudade dói, dilacera e gera arrependimento. 


"Pra mim, ao menos, a ficção serve primeiro como uma espécie de resguardo do mundo de verdade. Quando quero me afastar do mundo de verdade ou acreditar em outras coisas ou procurar outras realidades e ir atrás de novas perspectivas, sobretudo procurando sofisticações maiores do que o dia-a-dia oferece, eu procuro a ficção. Ela oferece uma espécie de fuga possível, às vezes mais sofisticada, de mais bom gosto, um resguardo contra a vulgaridade, contra o mau gosto diário."

Ah, Lísias, essa sua forma tão poética e, ao mesmo tempo certeira, de definir algo que me encanta na literatura foi deliciosa!
Porque é preciso literatura para fugir da vulgaridade; porque é necessário ter a literatura justamente como o mundo do possível, daquilo que nos liberta do cotidiano idiotizante e que transforma muitos dos nossos sonhos impossíveis de supérfluos para vitais.
(e possível sofisticado foi ótimo! Nunca mais vou esquecer isso! ;) 


"Sempre que estou escrevendo um livro, sempre que ele já está planejado, eu acordo de manhã e faço toda a parte da obra que tenho planejada para aquele dia. E só começo as atividades diárias quando consigo encerrar aquela parte. Escrevo todo dia, pela manhã. Escrevo a mão e a lápis. Tenho, evidentemente, computador. Escrevo em folha de papel almaço. Quando encerro, uma das tarefas diárias é digitar; a primeira parte da revisão já é feita quando passo da folha de almaço para o computador. É muito lento".


Quem não gosta de saber como se desenvolve o processo criativo e quais são as manias de um escritor? 
Eu adoro!
Outra coisa que eu gosto muito é papel almaço. Obrigada, Lísias, por trazer de volta para mim o amor pelo papel almaço (comprei uma pilha! ;).


"Amanheceu um belo dia. São típicos dessas cidades horrorosas que não tem nada para oferecer além do clima ameno, o céu azul e uma brisa agradável. Um horror. Lembro-me muito bem desses dias quando fazia faculdade aqui: logo tudo evoluía para um frio enorme".


Ah, como eu me deliciei com a ironia e o humor de Lísias em O céu dos suicidas! A escrita deste livro te leva a uma experiência interessante: é rápida, intensa e muito forte. Além disso é permeada de momentos de muito humor, ironias e situações extremamente absurdas e perfeitamente "reais".


"O principal risco de um livro como O céu dos suicidas é acharem que o personagem é realmente você. Por exemplo, minha mãe acha que todo esse negócio aconteceu de fato, mesmo as passagens em que ela entra e que eu falo para ela: “mas você fez isso?”. “Você não fez isso, isso não aconteceu.” Ela já acha que aconteceu. Então, tem um problema inerente à leitura, de as pessoas fazerem uma leitura mais imediata. Porque uma coisa é fato: se eu escrever e contar o que aconteceu hoje, não é mais o que aconteceu hoje. Tem a mediação da linguagem que modificou tudo"

Dá para imaginar o tipo de pergunta que o Lísias deve ouvir repetidamente??? (Ainda mais depois de Divórcio! rs). Por uma leitura menos realista e imediatista, por favor! O trecho abaixo é o melhor:

"O bom leitor é aquele que consegue trazer o texto para os interesses dele mesmo".
"Quando as pessoas leem literatura, elas precisam esquecer um pouco o autor e colocar elas mesmas como importantes".

É isso! (sem mais palavras minhas, pois o Lísias disse tudo nessas duas frases acima. ;)


Outra do Lísias quando perguntado sobre o que é fundamental para a escrita: 
"Concentração e técnica — pelo menos pra mim. Concentração, técnica, nenhuma concessão, radicalismo com a forma, nenhuma concessão com o público, nem com o glamour, nem com o meio literário".

Esta parte eu marquei, pois também estou em um momento no qual percebo a importância de não fazer nenhuma concessão. O importante é escrever para você mesmo; escrever o que você quer dizer, soltar a sua voz, suas inquietações e interesses. Fazer concessões deforma, distrai e, invariavelmente, transtorna o resultado.

"Uma literatura vulgar se caracteriza pela preocupação excessiva com o próprio umbigo, por exemplo, a falta de preocupação com o outro, uma facilidade no discurso, uma facilidade formal muito grande, a tentativa de barateamento da linguagem, a tentativa de barateamento ideológico, a falta de resistência aos discursos dominantes, a covardia de enfrentar discursos realmente fortes, a entrega ao discurso oficial".

E esta frase para fechar o post: está boa para vocês? Porque para mim está ótima! Concordo com o Lísias em gênero, número e grau nesta questão do que é vulgarizar a literatura.
Eu não quero facilidades; eu não quero senso comum: eu quero boa literatura! O resto pode deixar comigo que eu penso.


Referências:
Lísias, Ricardo. O céu dos Suicidas. Alfaguara, 2012.
Lísias, Ricardo. Rascunho. Disponível em: http://rascunho.gazetadopovo.com.br/ricardo-lisias/
Fonte das Imagens: arlequinal.com.br e revistalingua.uol.com.br.

domingo, 11 de agosto de 2013

Entrevista a Ondjaki!

O Ondjaki já apareceu aqui e no vlog várias vezes pois acompanho com muito prazer a sua obra (mais neste post)... Imaginem então a minha emoção quando ele aceitou responder umas perguntas minhas e da Inês?!
; ))))))

Antes da entrevista, aproveito para divulgar os novos livros de Ondjaki publicados este ano no Brasil: Os Transparentes, com edição da Companhia das Letras e Uma escuridão bonita que saiu pela Editora Pallas. 

E uma informação para os que estarão na Bienal do Livro do Rio de Janeiro: Ondjaki participará na mesa "Contar-mostrar uma história: assim nasce uma criança", com Julia Friese, e Graça Lima, sob mediação de Christine Röhrig (31/08). Vamos? ;)

Abaixo a entrevista inspiradora e que só aumentou nossa admiração por este escritor e poeta de Luanda já tão querido! ;)


Inês: Viveu em Luanda, em Lisboa, no Rio de Janeiro. São três cidades diferentes, em três continentes diferentes. Para além da língua, há mais alguma coisa que as una?
Deve haver... Mas são cidades radicalmente diferentes, no tecido humano, paisagístico. Eu realmente não saberia dizer o que as une, porque mesmo a língua parece (e talvez seja) a mesma, mas depois a linguagem e o 'modo de falar' é muito diversificado. Por modo de falar entendo mais do que a fala, também o modo de comunicar, de brincar, de esperar, celebrar. É uma pergunta difícil. Tento responder daqui a dez anos.
  
Denise: Vários escritores brasileiros já foram mencionados como influentes na sua formação (Graciliano, Manoel de Barros, Guimarães Rosa e Clarice). O conto "lábios em lava", da coletânea "e se amanhã o medo", tem como epígrafe um trecho do mexicano Carlos Fuentes. Como é sua relação com a literatura latino-americana?  Quais outros escritores latino-americanos foram importantes na sua formação e te inspiram?
Costumo dizer que são mais os livros que os autores. Eu li poucos autores na sua totalidade. Gosto mais de frequentar alguns livros ou mesmo algumas passagens. Posso dizer que li razoavelmente bem Manoel de Barros, mas não posso dizer o mesmo de Clarice ou Guimarães. Eu lembro-me de ter entrado devagar nos contos latino americanos... E de ter pensado, fascinadamente assustado: "nunca mais sairei daqui..." É um pouco verdade. São muitos autores bons da américa latina. São muitos livros, muitos contos. E, para dizer a verdade, é uma grande vertigem. Admitindo que a américa latina não é uma "mancha" literária, e há muitas especificidades, mas a pujança, isso a que quero chamar de vertigem, é poderosa. Ou pelo menos toca-me desse modo. Eu penso que é um pouco o que se passa com o continente africano: as nossas realidades são muitíssimo fortes, fora, totalmente fora dos limites apenas da lógica e do racional. Não são apenas os eventos que são bons para a literatura; o modo de as pessoas interpretarem a vida, de a atravessarem, de fazerem dela matéria para o teatro ou a poesia quotidiana, isso dá material forte para a literatura. Seja fantástica ou não, a literatura vive muito desse "olhar criativo" do que já foi olhado ou vivido pela população. Penso que nesse aspecto alguns autores africanos aproximam-se de autores latino americanos. Isto tudo para dizer que não são necessariamente os nomes, os autores; é mais a "coisa toda", a escrita e até a realidade latino-americana que me fascina. Vivo no Brasil de momento, tenho a oportunidade de viajar aqui dentro, e começo agora a circular mais por outros países. Tenho uma imensa curiosidade por alguns lugares que foram literários e onde é necessário pôr os olhos, o Chile, Colômbia, Peru. Há-de chegar esse tempo. Também tenho vivido, não sei porquê, ultimamente, uma enorme ânsia de ir conhecer o Uruguay...
  
Inês: "Quantas madrugadas tem a noite", "E se amanhã o medo", "Dentro de mim faz sul", "Materiais para confecção de um espanador de tristezas". Como é o processo de criação destes títulos que, sozinhos, já têm tanto para contar?
Há títulos que nos chegam desde os primeiros dias de escrita. Ou um pouco antes. Há outros que vêm de dentro, seja da estória ou da boca de algum personagem. "Quantas madrugadas tem a noite" foi dificílimo. Teve outros títulos. De repente vi que já lá estava, numa frase do próprio AdolfoDido. Sobretudo, e acho que não sei explicar isto muito bem, o que busco é ficar bem com o título. Eu. Eu quero ficar em paz com um título, não quero arrepender-me dele uns anos depois. Isto é um compromisso poético, talvez metafísico, entre o livro, o conteúdo, e eu. "Dentro de mim faz Sul" é um dos mais equilibrados nesse sentido. Estamos todos em paz com essa sentença, o livro, o título, eu. Digo tudo isto a brincar, evidentemente. Quem escolhe o título dos meus livros são os mesmos dois vizinhos que os escrevem. Eu limito-me a assinar.


Denise: Sabemos da sua predileção pelo conto curto e pela influência de diferentes formas de linguagem nesse gênero. Quais as características mais importantes de um bom conto? Poderia citar alguns dos seus preferidos?
Isso não sei dizer... O conto tem que ser bom. Ponto final. Pode ser curto e bom. Longo e bom. E há estórias menos bem escritas. É evidente que Borges escreveu belíssimos contos. García Márquez também. Não tenho nomes presentes, mas certamente há contos de Borges, Guimarães, García Márquez, Luandino Vieira, Mia Couto, Manuel Rui, que estão entre os meus preferidos. Mas ficam sempre nomes por lembrar. Daqui  meia hora a minha resposta seria diferente. Felizmente.
  
Inês: Disse numa entrevista que a história que queria contar é que determinava a técnica linguística utilizada, se recorreria a um estilo mais poético/lírico ou mais coloquial. Se estivesse a escrever a história da sua vida, como seria a linguagem?
Boa tentativa... Ainda não sei. Mas eu já me atrevi, ainda bastante novo, a escrever longos pedaços da história da minha vida. A infância está quase toda mapeada, e algumas (outras) coisas já estão escritas (só não estão ainda publicadas). Há a tendência para ser a voz de "um certo narrador" (do "Bom dia camaradas") a tratar da infância. Mas isso poderá mudar. Realmente escreve-se com a voz possível, com a voz que temos para perseguir uma pequena obsessão. Às vezes um livro é isso, algo que precisamos de contar, algo que temos que tirar de nós. Ou algo que nos acontece sonhar em forma de escrever. Por isso não sei se dá para pensar tanto na linguagem e na técnica. Surge. Sai. Lida-se com isso. E depois logo se vê. Muito se escreve também ao reescrever...

Denise: Entre as suas diversas obras (contos, poesias e romances) existe alguma que você tenha um afeto especial? E qual foi a mais difícil de escrever?
Com os livros, por vezes, aparece um lado cruel (não sei se necessário...): estamos incrivelmente ligados a eles e depois, com a finalização ou com a publicação, há um corte. Que dói, e que é necessário. Uns tempos mais tarde, fazemos as pazes. Comigo é assim. Fico farto, zangado, frustrado ou triste nas últimas revisões. Nem sempre o processo é claro, no sentido emocional. Ou seja, movemo-nos em territórios delicados no momento da escrita. E ao sair desses territórios, já não somos os mesmos. Certamente um dos mais difíceis de escrever foi o "madrugadas". Certamente, até ao momento, o mais difícil em todos os aspectos foi "Os transparentes". Ainda não fiz as pazes com ele. E já estamos em 2013...


Inês: Eu, sendo portuguesa, experimento algum estranhamento enquanto leio os seus livros, principalmente no que toca a algumas palavras ou expressões que não conheço, muitas delas tipicamente angolanas. Esse estranhamento é, para mim, uma das partes mais marcantes da leitura. Estando a sua obra traduzida para inglês, francês, espanhol, alemão, etc., preocupa-se que, durante o processo da tradução, se possa perder algum desse encanto?
Não se preocupe, eu, enquanto angolano, também sinto (bons ou não) estranhamentos quando leio literatura portuguesa ou brasileira. Faz parte, acho eu, dessa relação dúbia de muita e nenhuma familiaridade com a lingua e as linguagens de "um outro". Quanto às traduções, faço como um dos meus personagens em relação à água fervida: rezo. Rezo para que o resultado seja o menos mau possível, porque a tradução é uma área muito delicada e por melhores que sejam as intenções, o resultado é muito aleatório... Isto é, eu não posso controlar nada. Sugiro pequenas alterações nas duas linguas que posso entender (espanhol e inglês), mas são apenas sugestões pontuais. O sentido da coisa, o ritmo, a brincadeira, a ironia, o jogo, a pausa, são os elementos que dificultam e podem valorizar uma boa tradução. Chamo atenção para isto: os tradutores ocupam-se de uma arte muito elevada, na minha opinião, e são muitíssimo mal pagos. Devia haver manifestações em prol da valorização do trabalho dos tradutores. Estou a falar a sério. Agora, como em todas as profissões, existem bons e menos bons tradutores. Por isso, vou rezar mais um bocadinho...


Denise: Em entrevista ao programa entrelinhas você afirma que o olhar sobre a guerra e sobre o passado do seu país nas suas obras procura ser um olhar prospectivo; que pense no futuro de Luanda, de Angola. (Trecho: “Nós que crescemos em Luanda na realidade, apesar das pessoas não saberem, nós fomos os mais sortudos, porque a guerra estava fora de Luanda (...). Então eu tenho muita delicadeza e muito pudor em falar desse período de guerra que era, mas não para nós que estávamos em Luanda. Eu acho que, mesmo para falar da guerra e mesmo para falar do que não está bem em Angola, nós devemos falar numa atitude já pra frente, numa atitude a apontar para o futuro. Se eu não tenho soluções, e evidentemente que não as tenho, pelo menos que o meu tratamento literário seja um tratamento que dê dignidade à situação. Porque há coisas que já são indignas: a guerra é indigna, o sofrimento das crianças é indigno. Eu não posso reforçar aquilo que é indigno”. Ondjaki, programa entrelinhas; https://www.youtube.com/watch?v=X3kY22aHsLQ). Poderia falar um pouco sobre como a literatura pode trazer novo significado para o sofrimento humano e sobre o papel da ficção para o futuro das sociedades?
Eu realmente não sei se a literatura poderá trazer um novo significado para o sofrimento humano... Eu penso que há qualquer coisa de poeticamente misterioso nisso que rodeia um livro. E o que rodeia um livro, somos todos os que vivemos a vida, os que a observamos, os que a escrevemos e os que a lemos, depois, em formato de livro. Isto é, tenho esperança que qualquer pessoa, qualquer velho ou criança, ao ler uma estória, poema ou teatro, esteja por alguns momentos numa condição de leveza. E não é leveza por ser "leve" ou "etéreo": é leveza porque está longe da sua condição quotidiana, contínua, de ser humano, ser social, ocupado, absorto no real. Perto de um livro, às vezes, estamos absortos do irreal, ou do surreal. Digamos, um livro existe mais no momento de ser lido, de ser interpretado. Quieto, ele é um objecto à espera de comunicar, e de ser desejado. Quieto, um livro é um conjunto de papel e letrinhas e ideias. Nas mãos, aos olhos de alguém, esse livro é um mundo, uma arma de imaginação, uma armadilha de desejos, um lugar de dor, fantasia e poesia. Se tudo isto, de vez em quando, em doses mínimas, puder "tocar" a humanidade, seja de que maneira for, então estamos num caminho interessante. Portanto, não sei se é verdade, mas talvez um dos papéis da ficção seja o de aproximar a Humanidade a si mesma. Ou não.


Inês: Enquanto luandense, quais as principais diferenças que encontra entre a Luanda da sua infância, descrita, por exemplo, em "Os da minha rua", e a Luanda dos dias de hoje, palco do seu novo romance "Os Transparentes"?
Não leve a mal, mas responder à sua questão é uma mera tentativa de se resumir uma coisa que leva uns bons meses a contar... E umas boas refeições e umas boas cervejas. Levei muito tempo a escrever esses dois livrinhos, sobretudo o último. Parte da sua resposta está em ambos. Parte está na vida, no dia a dia, no modo como hoje se encara a cidade... Somos todos culpados: quem manda, e quem se deixa mandar.         
  
Denise: Para quem quer começar a enveredar pelo mundo da literatura africana, quais cinco livros você recomenda?
Seria uma resposta muito difícil...........
  
Inês: Os seus livros estão cheios de referências musicais (Caetano Veloso, Jorge Palma, Adriana Calcanhoto, canções soltas como Trem das Onze entre outras). Há alguma música que lhe provoque «aquela magia de um outro mundo» de "O Assobiador"?
Trecho da obra: «(...) que mexesse não só com o ouvido das pessoas, mas alcançasse, de modo incisivo, a profundidade das suas almas, o recôndito canto onde cada um escondia as suas coisas - essa assustadora gruta a que muitos chamam âmago do ser.»
Há certas músicas, certos momentos musicais de Wim Mertens (pianista belga) e mesmo de Keith Jarrett que já me provocaram altíssimas intensidades poéticas. Boas ou menos boas intensidades. Eu escrevo muito com música, usando territórios emocionais que são causados ou encontrados por via musical.

Denise: Uma curiosidade: que livro está lendo agora? E como seleciona suas leituras?

Não sei "como" selecciono... Estou quase sempre a ler poesia, não de modo sistematizado, mas conforme me apetece. Livremente. Mas acabei de reler "Ninguém escreve ao coronel" (García Márquez); li "A indestrutível condição de ter sido" (Helena Terra) e hoje mesmo comecei "Sabina e os manuscritos do Kuíto" (Arnaldo Santos). 

___________________________________________________________________

Obrigada, Ondjaki! ;)

E um agradecimento especial também à linda Juliana Gervason que ajudou a tornar possível esta entrevista! ;)

PS: Esta entrevista também será publicada no Blog da  Inês, amiga querida com a qual tenho o enorme prazer de compartilhar tantas alegrias literárias e da vida!!!

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Maratona Literária!


7 livros, 7 dias = simples assim! ;)

Vamos lá? Abaixo o comentários sobre a primeira leitura: Ratos e homens de John Steinbeck: gostei muito!




Abraços!

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Ondjaki!

Ndalu de Almeida nasceu em 1977 (ele também! ;) em Luanda. É sociólogo (formado em Lisboa), poeta, escritor e, acima de tudo, angolano. Escolheu ser Ondjaki, seu pseudônimo na escrita, e também cosmopolita. Já morou em Portugal, nos Estados Unidos e no Brasil (aqui no Rio!); mas é sempre de Luanda e para Luanda com amor, como sua obra transparece.

Uma das características de Ondjaki é, aliás, sua multiplicidade na unidade: começou escrevendo poesias, mas também enveredou pelo campo do teatro, da pintura e do cinema antes de se fixar como escritor. 
.
O documentário Oxalá cresçam Pitangas - histórias de Luanda, filmado com Kiluanje Liberdade e finalizado em 2007, o alçou ao reconhecimento internacional também no domínio da sétima arte (e vale muito o clique - confira aqui).

No campo da escrita, Ondjaki começou na poesia com o livro Actu Sanguíneu (o jogo de palavras é uma característica de sua escrita desde então). 


"poema atoado, com sol
Ondjaki
"estou pertinho e quero brindar contigo: meu coração é um voo de sol"
(Aurelino Costa, poeta português)

... e meu sol é um coração
abençoado
em sal e candura
em busca do rumor das andorinhas
depois do eco
das primaveras.

sento-me à berma da tarde
na esquina do mundo
meu sonho é a montanha adormecida
minha utopia é o veneno
na maça mordida

...e o meu sol
é um voo pelo lado salgado
de um coração
em ternura

ora busco um bosque
ora busco quentura

e a qualquer momento
a qualquer hora
o meu coração é um voo de sol
chicoteando
o dorso do meu desalento...

...se o meu sol segue em paz
- e eu desatento -
é que o sabor do que não vivi
me mantém vivo
me traz alento..............................."

(Lindo, lindo, lindo! O meu coração também é "um voo de sol chicoteando o dorso do meu desalento", Ndalu! E também sobrevive ao sabor do que ainda não conheceu tanto quanto do que vivi... ;)



Ondjaki brilha também nos contos; e se amanhã o medo, livro que saiu pela coleção ponta de lança da língua geral, é um belíssimo conjunto de contos nos quais o autor escolhe tratar do tema que une os contos (o medo) também através de homenagens à vários escritores e músicos brasileiros e portugueses e  intertextualidades. 

Logo no primeiro conto deste livro, A Libélula, a música de Adriana Calcanhoto embala a escrita de uma forma cativante!

"Um som fluido abandonava a casa, roçava na poeira das trepadeiras no jardim, influenciava as mangas e os mamões no seu processo de maturação, arrepiava uma libélula inebriada que ali adormecera, fazia o sol abrandar e chegava ainda forte, ainda nítido, ao ouvido da mulher. Depois disto, um sorriso. (...)" 

Trecho inicial de A Libélula, conto que pertence a coletânea e se amanhã o medo de Ondjaki.
(A música em questão é a linda Sudoeste)

(Para quem quiser saborear um pouquinho mais da escrita de Ondjaki, leia aqui o conto A esquina na íntegra! ;).

Uma das características da escrita de Ondjaki que mais me instigam é sua capacidade de falar de coisas duras, duríssimas, com esse jeito poético - que é agora só dele - meio "moleque"; um jeito que combina um humor leve e meio matreiro com a extrema delicadeza (é bem como um sorriso charmoso e um olhar penetrante no meio de uma lágrima, entendem? ;). Isso, o seu amor por Luanda e o jogo de palavras que ele usa me instigam bastante! Ando querendo ver os desenvolvimentos de sua escrita em outras áreas também, uma vez que Ondjaki escreveu também romances, textos infantis e juvenis; e, ainda, uma tese de mestrado sobre o grande Luandino Vieira. (E com a minha idade, gente! rs rs)  





Obras de Ondjaki para prestar atenção :

Bom dia camaradas - O seu primeiro romance (publicado em 2001).
Avó Dezanove e o segredo soviético - Romance que ganhou o prêmio Jabuti em 2010 na categoria juvenil.
Quantas Madrugadas tem a noite - Porque só com esse título já me ganhou de cara! (Update: Li este livro recentemente e amei - falei sobre ele neste vídeo aqui)
Os da Minha Rua - ganhou o Grande Premio de Conto Camilo Castelo Branco em 2007.
Materiais para a confecção de um espanador de tristezas - Poesia!
dentro de mim faz sul e acto sanguineu - mais poesia! ;)

Os Transparentes - seu último livro publicado (aqui no Brasil foi lançado mês passado pela Companhia da Letras); já estou completamente "louca" para ler este livro! (leia mais sobre o lançamento e sobre o documentário aqui e aqui).


*Texto originalmente publicado pela autora no extinto blog 365 escritores.

domingo, 16 de junho de 2013

As leituras do incrível mês de Maio! ;)


Um pouco tarde como sempre (atrasada é meu nome do meio) venho falar sobre as leituras do mês de maio. Um mês absolutamente incrível na minha relação com a literatura: comprei excelentes livros em várias promoções ( ) e, principalmente, descobri autores e livros muito, muito bons. E foi o mês que li Anna Karênina; um livro fantástico que se tornou um dos livros favoritos da vida.

Antes, porém, de entrar nos comentários das leituras feitas, tenho que falar do novo nome do humilde bloguito. Vocês gostaram?

Há algum tempo que eu queria modificar o título deste espaço para que ele pudesse refletir um pouco mais ao tema que acabei me dedicando e quero seguir debatendo por aqui. Cem Anos de Literatura faz uma homenagem não apenas ao Gabo, mas ao realismo mágico, à literatura latinoamericana (uma das minhas preferidas, fato) e ao caráter atemporal da literatura (porque cem anos é, na realidade, a ausência de limites; cem anos são mil vidas, muitos mundos possíveis e não um tempo realmente mensurável...).  



1. Coração Apertado de Marie Ndiaye

Já quero ler todos os outros livros da Ndiaye: que escrita essa francesa tem e que capacidade de lidar com uma temática tão profunda prendendo o leitor de um modo tão incrível (eu tive sensações físicas fortíssimas lendo esse livro, gente)!
Só não posso falar muito do livro, pois estragaria a experiência. Basta saber que é sobre um casal de professores de meia idade que vive em Bordeaux e que se vê acossado por praticamente todas as pessoas a sua volta sem saber o porquê... Leiam: vale a pena! (ainda que o final tenha me deixado um pouco... humm, não direi, mas compartilho com quem tenha lido o livro nos comentários, ok?) 



2. Daytripper de Fábio Moon e Gabriel Bá:

A única HQ do mês, mas valeu por várias. Inovadora em relação à estrutura e ao fato de ter dois desenhistas. Gostei bastante!



3. A Morte de Ivan Ilitch de Liev Tolstói

Releitura para o Entre Pontos e Vírgulas: post aqui e debate no fórum aqui.

4. A Infância de Jesus de Coetzee

Meu primeiro contato com o escritor; gostei bastante, mas também me senti um tanto estranha com relação ao enredo e à algumas características do livro... Deixo aqui uma resenha bem legal desse livro para quem se interessar: 




5. Fantasmas na biblioteca de Jacques Bonnet

Confissões de um bibliófilo; leitura deliciosa para aficcionados, rs. (No estilo dos livros do Midlin) Bonnet conta um pouco a sua própria trajetória, como organiza sua biblioteca, e tem um ensaio interessantíssimo sobre a relação pessoal do leitor com os personagens e com os escritores... ; )

6. O Escolhido foi você de Miranda July


Que livro incrível! Miranda July me ganhou na sua capacidade de transformar um momento da sua vida pessoal em literatura e em algo novo: o livro é quase um documentário! Agora quero ler mais textos dela com certeza! (E as imagens e pessoas do livro? Demais!)



7. Anna Kariênina de Liev Tolstói

Simplesmente a melhor leitura do mês, do ano! Fiz um vídeo, mas deveria ter feito um post também para o desafio literário... (ainda farei, vocês são minhas testemunhas, rs).

E essas foram as leituras do incrível mês de maio! E vocês: leram muitas coisas boas também?

Beijos!