sexta-feira, 9 de maio de 2014

A garota silenciosa de Tess Gerritsen

A garota silenciosa é o nono livro da série policial escrita por Tess Gerritsen que tem como protagonistas Jane Rizzoli, a policial, e Maura Isles, a médica legista. Já falei aqui da minha relação com a escritora e de como sou fanática por esta série: daí que a cada livro novo corro para ler! ;)

Posso dizer que fico feliz de ter mais motivos ainda para acompanhar os livros de Tess pela sua capacidade de sempre criar algo novo: Gélido, o oitavo livro da série, foi bem surpreendente e diferente do que a autora vinha fazendo.

Em A garota silenciosa novamente vemos Gerritsen renovar a série com uma história que é ambientada no bairro de Chinatown, traz vários elementos da mitologia chinesa, possui um ar mais sombrio e uma dose forte de suspense em vários momentos. Ah, sim, e é protagonizada por várias mulheres: outro elemento das histórias de Gerritsen que eu gosto!
Nos seus diversos romances policiais, a autora chama atenção para dramas sociais muito ligados a diversas formas de sujeição e exploração das mulheres e às distintas formas de lidar com estas questões.

A trama gira em torno de um assassinato ocorrido no bairro de Chinatown que parece ter sido feito com um tipo muito raro de espada, pois a pessoa teve decepada sua mão de uma forma muito precisa. Rizzoli assume o caso e Maura a auxilia até certo ponto; mas o foco deste volume é Rizzoli e a participação da legista é um tanto acessória neste volume. Este foi, aliás, um dos motivos que me levou a não dar 5 estrelas para o livro (dei quatro!): no início parece que nossas duas protagonistas participarão ativamente do caso, mas Maura Isles acaba saindo de cena. No plano da vida pessoal das protagonistas ocorre um abalo na relação das duas, pois Maura depõe contra a atuação violenta de um policial e Rizzoli, embora não pratique este tipo de violência e nem seja favorável,  acaba questionando o rigor ético de Isles.

O enredo combina a investigação sobre este misterioso crime e o envolvimento de Rizzoli e sua equipe em outros crimes ocorridos em Chinatown no passado. E aspectos ligados a mitologia chinesa e às artes marciais vão permeando várias descobertas.

Gostei muito do fato de que a trama se desenrola em torno de vários crimes e a ligação entre os mesmos esconde questões que aparecem no início da trama. O desfecho é bem interessante e com uma boa dose de ação e tensão. (*** Alerta de pequeno spoiler - visão sobre o final do livro: adoro vários finais dos livros desta série; este é mais interessante não pelo aspecto da surpresa - creio que este desfecho tem previsibilidade de um lado e grata surpresa do outro, rs -, mas pelo modo como Tess liga o final a uma mudança interessante em Rizzoli).

Falei um pouco mais desta leitura (e de outros romances policiais lidos em abril) no vídeo abaixo:



Abraços!


*Livro solicitado na parceria com o Grupo Editorial Record.

domingo, 20 de abril de 2014

Do meu amor por Gabo e de alguns demônios

"Ao amanhecer de quinta-feira pararam os cheiros, perdeu-se o sentido das distâncias. A noção do tempo (...) desapareceu por completo. Então não houve quinta-feira"
(Do conto Isabel vendo chover em Macondo)


Desde a triste notícia da morte do Gabo há três dias várias imagens, sentimentos e fantasmas povoam minha mente… Mesmo sabendo que no meu coração ele viverá para sempre, não pude deixar de me sentir tão pequena e só como eu era antes de conhecê-lo... O tempo parou e eu voltei a encontrar não apenas meus fantasmas, mas a dor de não poder tê-los ao meu lado.

Cresci admirando os títulos e capas dos livros de Gabriel García Marquez na estante dos meus pais. Lembro que O outono do patriarca era um dos que mais me intrigava; pelo título e pela capa. Meus pais e seus amigos falavam de vários escritores latino-americanos, mas uma coisa que ficou no meu imaginário era como o nome Gabriel García Marquez era evocado em alguns momentos como se ele fosse parte da família; com intimidade, reconhecimento e afeição. Gabo era, desde então, um ser mitológico para mim: sua obra ainda não tinha me tocado, mas a sua figura e o que ele representava para tantos já fazia parte da minha história. Lembro vagamente de ter começado a leitura de O outono e de Crônica de uma morte anunciada (outro título que me intrigava) e não ter concluído.
  
Com uns 15 ou 16 anos, finalmente conheci a escrita do Gabo: li Cem anos de solidão e foi como uma revolução na minha vida. Como leitora eu descobria novas possibilidades da escrita até então completamente desconhecidas. Como era possível inventar com a palavra um mundo tão real e irreal ao mesmo  tempo? E com personagens tão incríveis que eu sentia que conhecia antes mesmo de ler sobre? Como pessoa eu encontrava alguém que traduzia de uma forma tão bela e poética sentimentos que eu não sabia nomear e uma sensação de pertencimento única se formava dentro de mim. E, principalmente, com Cem anos a realidade de uma literatura latino-americana se tornava incontestável, tanto quanto a vontade de que com a minha vida eu pudesse compreender melhor e também falar ou fazer algo por essa minha América Latina querida. Escolhi as ciências sociais e, no segundo semestre da faculdade eu já sabia que não poderia fazer mais nada da vida…eu tinha um lugar no mundo e isso é algo que nos confere um tipo único de solidão e, ao mesmo tempo, aquela busca contínua que nos aprisiona e que, para mim, só Gabo sabia traduzir e aplacar.

Antes disso, eu era uma pessoa entre dois mundos: minha identidade se dividia entre a origem da minha mãe, hondureña, e a do meu pai, brasileiro, e o amor de ambos pela história, literatura e música latino-americana. Quando eu era pequena, vivia entre o Brasil e Honduras e, em um certo sentido, os dois países representavam realidades tão opostas, que era difícil conciliá-las na minha cabeça e no meu coração. De um lado o espanhol, a família numerosa, religiosa e festeira, a desigualdade social extrema e um país de proporções geográficas pequenas, mas de grandes caudilhos e absurdos sociais. De outro o Brasil, bem mais modernizado, com a família pequena e silenciosa do meu pai e com uma história tão diferente - ainda que tão parecida em outros aspectos -.
O que mais diferenciava o Brasil de Honduras além das proporções, da ausência de minha imensa família e da comida (aqui não tínhamos tortia e o café da manhã era, portanto, sempre mais chato), era a língua… O português nos diferenciava não só de Honduras, mas dessa identidade coletiva que era a de todos os outros países latinos. Os amigos chilenos, argentinos, nicaraguenses e do Panamá: todos falavam espanhol! Nós éramos, na minha cabeça quando pequena, os diferentes e o português era uma língua que separava; e o Brasil esse país imenso e belo que todos amavam, porém distante, uma distância que o tornava quase irreal.

Eu fui alfabetizada em espanhol para, em seguida, voltar ao Brasil. Apesar de falar bem o espanhol ("sem sotaque, nem parece que você é brasileira!"), lembro que meus primos riam de mim quando eu falava democracia com o "acento" errado do português e também me zoavam dizendo que eu inventava palavras. Enquanto isso, por aqui, eu vivia sendo criticada nas provas e textos pois escrevia felis com "s", entre outros absurdos lingüísticos e existenciais.

Eu pensava em espanhol quando ia para Honduras e esquecia completamente o português (ao menos era assim que eu sentia); mas, quando voltava para cá eu sentia que minha Honduras, bem como a nossa latinidade, ficavam imensamente mais distantes por conta da língua e da inexistência de uma afirmação histórico-política de igualdade entre nós: quase ninguém que eu conhecia sabia onde era Honduras! Minha mãe ser hondureña era sempre motivo de caras estranhas, risinhos e até xingamentos (sim, adolescentes são seres maldosos! :).

O maior dos "absurdos" para mim era como podíamos ser tão próximos e tão distantes de Honduras, bem como da América Latina como um todo em certo sentido… O Brasil se bastava a si mesmo, mas eu e minha família não. Estávamos sempre com saudade de alguém ou de algo, real e imaginado. Desde muito cedo eu conhecia o que era nostalgia, ainda que não soubesse escrever corretamente a palavra em nenhuma língua. 

Quando eu tinha 8 anos meus pais nos mandaram para Honduras para morar com meus avós (eu e minha irmã dois anos mais velha). Eles estavam se separando aqui e acharam que, estando lá, experimentaríamos menos essa dor. A ironia é que meus avós hondureños se separaram enquanto estávamos morando com eles! :(
A casa dos meus avós era imensa (na minha mente, claro); era o verdadeiro centro do mundo familiar, o lugar de encontro semanal, de resolução dos problemas mais graves e era também o contexto que acolhia rejeitados como eu e minha irmã. Também frequentávamos bastante as casas das minhas bisavós, que eram como o paraíso para mim: muita coisa podia acontecer nestes lugares fantásticos e era com um imenso pesar que eu ia embora de lá. A casa da mãe da minha avó, minha bisavó Mercedes (da qual eu herdei meu nome), tinha um jardim interno e nela moravam várias tias mais velhas e solteiras que nos enchiam de doces e histórias; muitas delas eram de familiares e cheias de segredos e revelações - era melhor que novela! rs. Outra coisa que lembro com gosto era como nós encontrávamos a cada dia uma passagem secreta escondida, um recanto perdido da casa e o mundo de objetos velhos incríveis que minha bisavó guardava. (Minha avó também faz isso até hoje: na casa dela podemos encontrar objetos com mais de 30/40 anos!). 

Minha outra bisavó, abuelita Moncha, tinha uma casa igualmente surpreendente, pois ela guardava muitas coisas em vidros espalhados em prateleiras pelos cômodos da casa toda - o que era um tanto assustador, confesso. Além disso, ela tinha uma cozinha incrível que era meio que aberta para o quintal e cozinhava o dia inteiro em um forno de barro enquanto nós nos sentávamos e comíamos em bancos de madeira com três pés. Outra lembrança forte que tenho da minha bisavó Moncha é que ela viveu até quase os 100 anos e fazia TUDO sozinha. 

Quando eu tinha 15 anos fui para Honduras visitar minha mãe que estava morando lá. No dia seguinte estávamos na casa da minha bisavó Moncha. Ela estava doente, muito mal mesmo e não podíamos fazer mais nada: ela queria morrer em casa. Minha mãe, que é médica, ficava a maior parte do tempo com ela (quando não estava brigando com todo mundo na micro sala ao lado porque era preciso fazer algo!). No meio da noite, saí com minha mãe e minha avó para buscar comida; demoramos uns 15 minutos. Quando voltamos minha bisa estava morta. Creio que meu maior choque foi com o fato de ser tão repentino (eu não "sabia" exatamente que estávamos ali esperando a sua morte, afinal) e com o fato de que ela parecia tão menor e mais serena quando morta. No dia seguinte meu avô chorou alto feito criança durante todo o enterro como eu nunca vira; ele era o nosso coronel, sempre impassível, forte e duro, e estava ali se despedindo de sua mãe completamente destroçado! Essas duas imagens ficaram durante muito tempo comigo… 

A morte de Úrsula Iguarán em Cem anos de solidão é uma das passagens literárias mais fortes que guardo na memória (não vou contar tudo, pois alguém pode estar lendo este texto sem ter lido o livro). Úrsula é até hoje uma das minhas personagens preferidas do livro: sua força, determinação, o modo como cuidava de toda a família e como suportou (e até apoiou em certo sentido) todas as ideias loucas de José Arcádio Buendía e as guerras do coronel Aureliano Buendía (outro dos meus personagens preferidos ;)… Úrsula sintetizava todas as grandes mulheres da minha família: minhas bisavós, minha avó e minha mãe. Além disso, Úrsula, Amaranta, Rebecca, Pilar (e até mesmo a Fernanda del Carpio!) eram todas mulheres muito latino-americanas. [E o que dizer de Macondo? Macondo era a minha casa, a fusão das casas das minhas avós e bisas, de Honduras e da América Latina... Macondo era aqui e eu nunca mais deixei de me sentir próxima dessa cidade mítica, solitária e maravilhosa].

Eu comecei a ser devoradora de livros quando pequena; por volta dos 10 anos, quando voltei para o Brasil, lembro de ler tudo que me caía nas mãos (especialmente suspenses!) e com 12 lembro de frequentar a biblioteca do Campo São Bento toda semana. A literatura foi fundamental para mim nesse período de construção da minha identidade por vários motivos: me ajudou a lidar com a distância e a falta que sentia da minha família, me abriu a mente para a enormidade do mundo, me ajudou a superar minhas próprias dores muito ligadas nessa época à separação dos meus pais e a impotência que eu sentia em lidar com isso... e até me ajudou a gostar do português. ;)

Mas foi com Gabo, e com Cem anos, que eu pude vivenciar e perceber a grandiosidade dessa fusão entre vida e literatura. Gabo falava de um modo tão belo de algo que era tão real e, ao mesmo tempo tão absurdo, tão doloroso… Eram sentimentos que eu entendia, tinha vivenciado, que falavam de mim e da minha história também. E eram, agora, parte de algo que eu compreendia como um "nós", algo que me relacionava de forma definitiva a minha identidade latino-americana; que eu antes não enxergava com essa dimensão maior.

Os desmandos e absurdos cometidos pelos homens no poder, a inutilidade das guerras, a ausência de diferenças ideológicas no plano da ação/do poder e a invisibilidade dos trabalhadores: tudo isso também estava lá e nos unia! A dialética que opunha Brasil e Honduras no meu imaginário se resolvia na reconstrução da história social da América Latina que eu agora queria estudar. 

O contato com a obra de Gabo (re)significou a minha história e minhas escolhas. Por isso este texto não poderia deixar de ser tão pessoal. Por mais que o grande escritor de Aracataca tenha vários outros lugares na minha experiência de leitora, hoje, com o coração apertado, lembro de como ele foi fundamental no momento que a morte se tornou presente na minha vida,  no momento que a solidão inescapável que todos nós vivemos se fez mais real, mas também na construção do ideal que me permitiu acreditar: o de uma América Latina mais justa e igual.

Gabo nos deixou na última quinta-feira 17 de abril de 2014. Entretanto, continuará vivendo para sempre no coração de seus leitores por todo o mundo.

Hasta luego, maestro! Y gracias por todo

domingo, 6 de abril de 2014

Quem sabe um dia de Lauren Grahan

Quem sabe um dia, o primeiro livro da atriz Lauren Graham (a nossa eterna Lorelai de Gilmore Girls! ;), é um livro leve e divertido.

Acompanhamos a trajetória de Franny Banks em Nova York no final do prazo de três anos que ela mesma se impôs para se tornar uma atriz em ascensão (na Broadway). Restam seis meses para lutar pelo grande desejo de sua vida, mas até agora ela conseguiu apenas fazer um comercial de casaco de Natal, trabalhar como garçonete e fazer um curso de teatro famoso. No mais, divide um apartamento no Brooklin com sua grande amiga Jane, que trabalha como assistente de produção em um filme, e Dan, que aspira ser roteirista de filmes de ficção científica. Tudo gira então em torno da indústria da TV e do cinema e do quanto é difícil batalhar por uma entrada neste mundo. Franny aposta suas fichas no curso de teatro que está fazendo e que termina com uma grande apresentação na qual comparecem recrutadores/ "olheiros" das grandes agências de atores de Nova York.

Como nas boas comédias românticas do cinema, os melhores momentos da trama se passam nas peripécias pelas quais Franny passa em sua caminhada e na convivência e nas conversas da personagem principal com seus colegas de apartamento. ;)

Franny tem 26 anos; perdeu a mãe quando era pequena e foi criada pelo pai, um professor de literatura que vive em outra cidade e quase só consegue conversar com a filha pelo telefone. Um dos pontos altos do livro para mim foi justamente a relação de Franny com seu pai e as conversas dos dois. Na maior parte das vezes o pai de Franny, não conseguindo falar com ela, deixa recados na secretária eletrônica; mensagens que, aliás, pautam a passagem do tempo e conferem uma boa dinâmica à história. Pena só que a autora não segura o ritmo (neste e em outros pontos) até o final.

A relação da personagem com a secretária eletrônica, aliás, foi uma das boas ideias de Lauren Grahan. O livro se passa em 1995 e Franny não tem um telefone celular; a secretária é seu meio de relacionamento com o mundo e, na maior parte do livro, o uso deste recurso confere dinamismo e graça ao enredo. Franny está sempre esperando um recado de alguém da mesma forma que parece estar esperando ser aprovada (empregada) por alguém como atriz, como mulher, como pessoa...

Apesar de ser o mote central, achei que a insegurança em relação à sua atuação não é tão bem  explorada no livro. Ao mesmo tempo em que acompanhamos vários momentos de descoberta da personagem de seu potencial como atriz, a autora explora a insegurança de Franny com relação ao seu corpo, sua beleza, seu cabelo… Embora estas questões sejam elaboradas também com relação à insegurança geral da personagem sobre si mesma de forma interessante em certas partes, achei que foi um pouco clichê demais e forçada a obsessão de Franny com dietas (confesso que implico com o excesso dessa temática...).
Minha impressão geral foi a de que o livro é divertido e interessante, mas ganharia muito se fosse mais enxuto em várias partes do enredo e também na construção da personagem.

Assim, ao mesmo tempo que gostei do início do desenvolvimento da personagem com as várias tiradas através da secretária eletrônica e das conversas de Franny com Dan, duas coisas me incomodaram mais do meio para o fim do livro. A primeira é que Franny não parecia ter 26 anos! Em vários momentos, senti como se ela fosse uma adolescente e como se houvesse um certo descompasso entre uma das características da personagem (a insistência em batalhar pelo que queria) e as demais… (Para mim a obsessão com o seu peso não "colou", sabem como?). Além disso, faltou sutileza a autora em alguns momentos: estendeu demais certas passagens e explicou muito para seu leitor outras ótimas ideias que teve (como a do nome da personagem dada por sua mãe que adorava Salinger).

Enfim, gostei do tom leve e divertido da leitura, especialmente no início e no finalzinho, e de alguns insights de Lauren Grahan, mas acho que o livro ganharia muito se a autora se afastasse de alguns clichês e tornasse mais dinâmico também o "miolo" da trama.


OBS: Ganhei "Quem sabe um dia" de cortesia da Editora Record no evento Piquenique da Galera Record. ;)

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Retrospectiva literária 2013

A linda da Lua fez uma Retrospectiva Literária que eu achei muito legal. Então vou aproveitar a ideia dela como se fosse uma tag e responder por aqui também. ;)

Os melhores livros (lidos) de 2013

Respondi em vídeo! E escolhi um montão, ahaha!  ;) 





Os piores

Fiquei feliz em ter dificuldade de encontrar resposta para esta categoria. A verdade é que praticamente só tive leituras excelentes, muito boas e boas em 2013! ;)

Mas vou citar uma que eu não curti, apesar de achar o livro bom e interessante em alguns aspectos: Garota Exemplar. Os personagens me irritaram demais, demais, DEMAIS... Ahaha!

O enredo é muito bom e alguma coisa do debate por traz da construção dos personagens também (apesar dos clichês), mas eu não consegui gostar... mesmo. Terminei de ler, pois é um livro que não dá para largar. Ou seja: li com raiva quase, rs.




 Clássicos do Ano

Os grandes clássicos do (meu) ano foram Anna Kariênina e Crime e castigo. Foi um ano de grandes russos e queria ter lido muitos livros mais do Tolstói e do Dostoievski: escritores apaixonantes e que entraram de vez para minha vida. O plano agora é ler ao menos um livro de cada um deles por ano. ;)

Mas eu li muitos livros que considero clássicos em 2013: Laranja Mecânica, A morte de Ivan Ilitch, As Meninas, Vidas Secas, Tenda dos Milagres, O último dia de um condenado, Na colonia Penal, Maus (clássico das graphic novels), Chamado Selvagem. Que venham mais em 2014!


Gostei (mas não era o momento certo)

Nessa categoria entram dois livros que abandonei a leitura temporariamente apesar de estar gostando; coisa que me dá um mau humos terrível (haha!).

O primeiro é Notre Dame de Paris do Victor Hugo. Creio que li uns 60% do livro e estava aproveitando muito a escrita e as descrições do VH. Parei, pois realmente não era o momento certo; estava com muito trabalho na época e demorava horrores para ler umas dez páginas... Aí acabei "brochando" e resolvi salvar este livro para um momento melhor.

O segundo foi a biografia do Dênis Moraes sobre o Graciliano Ramos e o motivo foi idêntico. (Mas tenho que confessar que acontece comigo uma espécie de "maldição da biografia", sabem como? Tenho ao menos umas três que li pela metade, mesmo gostando muito da leitura... acho isso estranhíssimo. É mais do que Murphy, gente, já é quase uma sina, rs rs).


Gostei, mas esperava mais

O sentido de um fim do Julian Barnes certamente entra na categoria de livros que eu não consegui me envolver, apesar de saber que o livro é bom... E foi bem interessante ver a diferença de perspectivas sobre este livro lá no fórum: teve gente que adorou e teve gente que odiou. Eu, neste caso, fiquei no meio do caminho: gostei, mas esperava muito mais.

Outra leitura que não atendeu bem às minhas expectativas (e que, coincidentemente, também foi debatido no fórum) foi o livro do Amado: Tenda dos Milagres. Eu esperava que ele me arrebatasse, que a leitura fosse extremamente prazerosa, que os personagens fossem carismáticos e interessantes, que o enredo me fizesse rir e refletir tanto como os outros romances de JA que eu tanto gosto. Mas a verdade é que eu achei o enredo interessante, mas não tão bem executado. Achei Pedro Archanjo um personagem fantástico, mas não os demais do livro. A temática é ótima e Amado faz uma crítica muito interessante, mas, como romance, não foi o 5 (excelente) que eu esperava.


Pensei que is ser 3 estrelas, foi 4

Virgens suicidas foi um livro que me surpreendeu muito, pois eu não esperava gostar tanto. Fico até com muita pena que ele não tenha entrado nas 10 melhores leituras do ano, pois realmente é um livro incrível!

Jeffrey Eugenides cria uma atmosfera única com a sua escrita que vai nos envolvendo e não conseguimos largar o livro! Logo no início somos apresentadas ao mistério que ronda as irmãs Lisbon e ficamos sabendo que todas as cinco irmãs se suicidaram em momentos distintos. O que poderia ser uma trama sobre um drama familiar é, na verdade, uma longa reflexão sobre a imagem que construímos dos outros e as pressões na adolescência e na vida "comunitária" em uma cidade (relativamente) pequena americana da década de 80/90... Uma das coisas mais envolventes é o "narrador coletivo" que é formado por um grupo de meninos (homens) que narra a história de como eram fascinados pelas meninas Lisbon e de sua tentativa de dar um sentido à atitude delas de desistir de viver. Recomendo muito a leitura especialmente a pessoas melancólicas (como eu).

E esse foi um dos raros casos em que achei a adaptação cinematográfica tão boa quanto o livro; feito raro conduzido por Sofia Coppola. Vale a pena a dobradinha! ;)

Outro livro que eu poderia citar como uma grande surpresa foi Mar Azul, da paloma Vidal. Um achado mesmo, gostei muito!

Pensei que ia ser 5 estrelas, foi 4

Nessa categoria eu citaria novamente Tenda dos Milagres; mas acho que minha expectativa com relação à este livro (tido pelo próprio Jorge Amado como o melhor dos que escreveu) acabou atrapalhando também.


domingo, 12 de janeiro de 2014

Maratona Literária 2.0: minha meta!

E 2014 começa com mais uma maratona, yey! (já que não corro, as "maratonas" literárias me permitem dar vazão a sede de aventuras e desafios que há em mim, rs).

Dessa vez, estou participando da maratona organizada pelo blog Café com Blá Blá Blá (e outros). Gostei porque as regras são bem simples e cada participante estipula a sua meta! A maratona ocorrerá a partir de amanhã 13/01 até o dia 19/01 e a proposta é que cada um possa então ler mais que o habitual e, assim, estimular e celebrar a leitura. ;)

Todas as informações, regras e como participar (tem que se inscrever!) nos links abaixo:
Blog Café com Blá Blá Blá: http://www.cafecomblablabla.com.br/faq-maratona-literaria/
Face: https://www.facebook.com/MaratonaLiteraria?fref=ts

E agora os livros que selecionei:


Um policial, um romance aclamado, um escritor que quero MUITO conhecer (Naipaul) e uma HQ (mangá, na verdade, rs). Quatro livros; uma semana. E vamos que vamos! (kkk)


1. Um policial (por que eu amo e pq leio mais rápido, haha!)

"A fera interior" dos irmãos Lotte e Soren Hammer é uma trama policial que envolve pedofilia e política: ansiosa, ainda mais que amei "Vestido de Noivo" da mesma coleção da Vertigo... ;)

2. Um mangá

"Gen pés descalços" - Há algum tempo estou com este aclamado mangá aqui em casa. Indicação do super Kalebe (Confira AQUI). Difícil vai ser não continuar com a série, pois parece ser muito, muito bom! ;)



3. Liberdade de Jonathan Frazen - livro que está encalhado na minha estante há uns dois anos... (coisa feia!). Aproveitei que os espanadores o escolheram como livro do mês no Leituras compartilhadas e vou encarar o calhamaço de 600 páginas! Uhuuuuu! (Wish Me Luck! ;)

4. Num Estado livre do Naipaul: vencedor do booker prize de 1971: ótimo livro (acredito) para conhecer o escritor! Estou querendo ler desde o início de dezembro... E essa capa linda?! rs rs

Quem quiser acompanhar atualizações diárias sobre a maratona é só me seguir no face e no instagram (amo!). E para acompanhar os demais participantes vejam a página do face da Maratona Literária 2.0 (link no começo deste post).

Beijos e boa sorte para todos nós!


Facebook: https://www.facebook.com/cemanosdeliteratura
Instagram: @mercedesolhosverdes

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

2X Irã: Lendo Lolita em Teerã e Filhos do Jacarandá

Um romance e um livro de não ficção; duas mulheres unidas pela nacionalidade, por terem escolhido sair de seu país e por escolherem a escrita como forma de dar novo sentido à suas experiências de vida.

Em comum não apenas o período abordado (o Irã pós revolução -1979- até os dias atuais), mas a capacidade e necessidade de transformar o real em experiência literária.

Lendo Lolita em Teerã

O livro de memórias de Azar Nafisi é simplesmente apaixonante! De forma não linear, a autora relembra seu retorno ao Irã em 1979 após a conclusão de seu doutorado em literatura nos EUA, a luta e decepção com os rumos políticos e sociais de seu país e a forma como a literatura permeou sua vida em Teerã; nas universidades que lecionou e nas relações que estabeleceu com suas alunas até 1997, quando decidiu sair do seu país de vez.

Um livro de não-ficção que nos faz entrar na vida da escritora e de suas alunas de forma  intensa e muito bonita também. Parece que estamos ouvindo a autora nos contando seus sonhos, suas emoções e seu amor pelos livros. Em um dado momento eu me sentia na sala de Azar Nafisi junto com Mashid, Manna, Azin, Mitra, Sanaz, Yassi, Nassrin! ;)

As memórias de Nafisi também nos aproximam de forma mais ampla da vida das mulheres no Irã pós revolução de 1979. O relato é rico não apenas em história social, mas por sua crítica literária e pela memória que denuncia a vida em um regime totalitário. A história de vida da autora e de suas alunas é lembrada através dos livros que permearam cada momento vivido e que tornaram possível superar e dar novo significado à vivência permeada de violência, medo e repressão.

O livro é dividido em quatro partes: Lolita, Gatsby, James e Austen.

No início, Nafisi nos conta sobre os encontros do grupo de alunas que reunia secretamente em sua casa para ler e debater obras censuradas pelo regime por volta de 1993 (como Lolita). O grupo se forma depois de Nafisi ter saído da universidade e deixado de lecionar (o que ela contará depois em outras partes do livro).

O amor de Nafisi por Nabokov é contagiante; mas o que ela faz é uma análise de como aspectos da sua literatura tem relação com o que ela e suas alunas viviam em Teerã... E assim em cada parte a autora explora essa ligação entre suas memórias pessoais,  os acontecimentos sociais e políticos e a literatura (em especial a inglesa e norte americana, mas em um sentido mais amplo também).

Difícil dizer qual parte do livro é mais interessante; mas ouso dizer que a terceira parte me tocou de modo especial... Nafisi está contando nessa parte o momento da guerra Irã e Iraque e sua referência é Henry James. O paralelo entre as reflexões que o escritor fez sobre a primeira guerra e como ela o transformou e o olhar de Nafisi sobre o Irã é muito interessante e inspirador...

Um livro verdadeiramente imperdível para os amantes de literatura, sociologia e história!

Filhos do Jacarandá

No seu livro de estréia, Sahar Delijani constrói um romance fragmentado inspirada na vivência de seus familiares na resistência no Irã durante três décadas: de 1983 a 2011.

O desenrolar do enredo nos permite conhecer os dramas de várias gerações com suas diferentes vivências e percepções: os que viveram a resistência e foram presos, torturados e mortos; os seus filhos (que muitas vezes foram morar fora do Irã depois), e também os pais daqueles que eram jovens em 1983 e que cuidaram dos netos que ficaram longe dos pais.

O primeiro capítulo, por exemplo, nos apresenta a história de Azari que teve sua filha Neda em 1983 na prisão de Teerã. O que me impressionou neste capítulo foi como a escrita de Delijani, que é curta, seca e com momentos de lirismo, me fez entrar integralmente na vivência e nos sentimentos de Azari. Um primeiro capítulo muito forte e belo!

Entretanto, ao progredir na leitura não me senti da mesma forma; a estrutura narrativa escolhida por Delijani, fragmentada em vários aspectos, vai afastando o leitor dos personagens, em vez de aproximar. Há, eu diria, uma cisão no livro que faz alusão à forma muito diferente com a qual as distintas gerações experimentaram a violência extrema e o regime totalitário. Apesar de ficar clara a proposta de Delijani, não conseguimos nos envolver igualmente em todos os dramas: parece que faltou corpo ao romance e desenvolvimento dos personagens.

A minha leitura foi muito marcada pelo fato de ter terminado de ler o livros de memórias de Azar Nafisi e estar envolvida em toda a história do Irã nesse período; o que foi muito bom. Porém, do meio para o fim da leitura eu fui me afastando daquela sensação que Delijani me deixou no início de seu texto; a de conjugar força e beleza em sua escrita.

Um dos momentos que mais gostei do livro é a descrição da lembrança de uma das passeatas que ficaram conhecidas como "protestos silenciosos":

"(XXX) se lembra de ver as imagens de um imenso mar de gente andando em silêncio por uma larga ponte. Num silêncio tão grande que ela achou que podia ouvir o som das batidas dos corações. Havia mulheres de véu, homens com lenços verdes amarrados na testa, jovens e velhos, passando diante do olho perplexo da câmera. Uma comprida bandeira verde flutuava acima de todos, erguida pela multidão. Depois de alguns instantes, um trovão irrompeu quando os manifestantes quebraram o silêncio batendo palmas em uníssono. Houve risos quando estranhos se uniram àquela explosão entusiasmada. Logo as palmas ganharam impulso, jorrando da tela para dentro da sala, como pingos de chuva tamborilando no telhado" (pág. 211).

Me arrepiou... 

Por último devo dizer que achei belíssima a capa e a edição de Filhos do Jacarandá. 

Em vários momentos da leitura me peguei admirando e pensando nessa árvore com folhas de borboleta... ;)