sexta-feira, 8 de março de 2013

O restaurante no fim do universo e a imaginação indescritível de Douglas Adams

 Li o segundo volume da série O Mochileiro das Galáxias para o Desafio Literário de 2013. (E sim, minha resenha está um pouco atrasada, rs)

Douglas Adams já tinha me proporcionado ótimos momentos com o excelente livro de abertura da série e o tema do mês era livros que nos façam rir; então não tive dúvidas e achei que seria uma ótima leitura. Mas, como é sabido, tanto na literatura como na vida criar muita expectativa nem sempre é algo bom. Porque a possibilidade da leitura não corresponder a essa expectativa idealizada é enorme e você fica com aquela sensação que o livro não deu o que tinha que dar (embora o tamanho da sua decepção seja fruto quase que exclusivamente dessa sua própria expectativa generalizada e inatingível...).

Dito isso, O restaurante no fim do universo é um bom livro, mas não tanto quanto O guia do mochileiro das galáxias. ;)

É fato que continuações são difíceis por natureza. Douglas Adams nos brinda neste segundo volume com muitas doses de sua ironia inteligente e com tiradas incríveis e isso já vale a leitura. Mas o livro tem um problema que, na minha opinião, incomoda bastante o leitor: a falta de um enredo. Além disso, ou em paralelo à isso, os personagens se perdem na falta de um roteiro com início, meio e fim (ou outras possibilidades cabíveis). 

Inicialmente achei que era proposital (e ainda acho que pode ser; afinal, tenho que ler a continuação para poder avaliar melhor), mas no meio para o fim do livro a sensação de que ele estava me levando de nada a lugar nenhum ficou mais forte.

A história começa com um breve resumo do livro anterior e com o reaparecimento dos Vogons que voltam para terminar o que tinham começado: exterminar os humanos (no caso, os únicos dois humanos restantes no universo: Arthur e Trilian). Diante da possibilidade da extinção da nave Coração de Ouro e da incapacidade de se entender com o computador central da nave para que ela funcione e eles fujam, Zaphod Beeblebrox resolve invocar o seu bisavô para pedir ajuda (? rs).

A partir de então tem início uma saga que separa os personagens e os une apenas em alguns momentos da trama. Um dos melhores momentos é quando acompanhamos Zaphod Beeblebrox e Marvin sendo perseguidos em um planeta distante por uma patrulha Frogstar. O objetivo é levar Zaphod para que este seja submetido ao Vórtice da Perspectiva Total, uma aparelho simplesmente brilhante! (rs).
Nesse trama inícial, os dois passam por situações hilariantes e eu até cheguei a simpatizar um pouco mais com Zaphod. ;)

O segundo melhor momento é, seguramente, o jantar no restaurante no fim do universo! Nessa hora fiquei me perguntando: quantas ideias geniais uma pessoa pode ter? Porque a imaginação do autor parece não ter fim, rs.

Creio que a leitura vale mais a pena quando feita da série inteira de forma seguida. Dessa forma, talvez eu não tivesse me sentido tão incomodada com a falta de um enredo central neste livro.

No mais, termino com um trechinho de um dos momentos incríveis da capacidade criativa e do humor irônico de Adams:

"Os elevadores modernos são entidades estranhas e complexas. Os antigos aparelhos elétricos com cabos de aço e 'capacidade-máxima-para-oito-pessoas' possuem tanta semelhança com um Transportador Vertical Feliz de Pessoas da Companhia Cibernética de Sirius quanto um saquinho de castanhas sortidas tinha com toda a ala esquerda do Hospital Psiquiátrico de Sírius.
Basicamente, os elevadores agora operam segundo o curioso princípio da 'percepção temporal desfocada'. Em outras palavras, são capazes de prever vagamente o futuro imediato, o que permite que estejam no andar correto para apanhar seus passageiros antes mesmo que eles possam saber que queriam chamar um elevador. Dessa forma, eliminaram todo aquele tédio relacionado a bater papo, se descontrair e fazer amigos ao qual antes as pessoas eram forçadas enquanto esperavam os elevadores.
É apenas uma consequência natural, então, que muitos elevadores imbuídos de inteligência e premonição tenham ficado terrivelmente frustrados com esse trabalho inominavelmente tedioso de subir e desces, subir e descer ; eles experimentaram brevemente a noção de ir para os lados, como uma espécie de protesto existencial, em seguida reivindicaram maior participação no processo de tomada de decisões e finalmente começaram a jogar-se deprimidos nos porões.
Em nossos dias, um mochileiro sem grana que esteja passando por qualquer um dos planetas do sistema estelar de Sírius pode arrecadar um dinheiro fácil trabalhando como terapeuta de elevadores neuróticos."
O Restaurante no fim do universo, Douglas Adams. Editora Arqueiro, pág. 36.



Este post é a minha terceira resenha para o Desafio Literário 2013. Minha lista de livros para o desafio: aqui.

5 comentários:

  1. Eu achei a sua resenha fantástica. A sua criatividade em escrever me encanta. Pudera eu ter essa desenvoltura com as palavras.

    Eu comprei minha coleção a poucos dias e ainda não começei a ler. Mas estou super ansiosa.

    ;)

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  2. Eu comentei aqui ontem pelo ipad mas acho que não rolou. =(
    Bom, eu acho que nenhum chega perto do primeiro, Denise! A série é muito boa e o Adams é genial, mas o primeiro realmente gera muitas expectativas que não se concretizam no decorrer dos livros. Ainda assim um dia eu quero reler todos. Beijinhos!!!

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  3. Adorei sua frase sobre idealizações e frustrações. Realmente a proporção entre as duas é diretamente proporcional. Além disso, como entre o ideal e o real existe uma grande distância, um "que" de frustração sempre nos aguardará, né?
    Você disse "...sua própria expectativa": perfeito! Se a frustração é nossa, penso que cabe a nós nos havermos com ela - o outro (ou o livro rs) não tem nada com isso rsrsrsrs...
    Abraço de Minas procê e bom fds!

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  4. Li varias opiniões diferentes sobre o livro, mesmo com os bons comentários fiquei com um pé atrás por causa da "falta de enredo" , a verdade é que não lembrava nada da história , vi o filme quando saiu no cinemas (2009 ?) e já tinha esquecido de tudo. Acabei revendo o filme depois de várias pessoas fazendo resenhas. Minha impressão agora é que novamente o filme não chega aos pés da série.

    Fico sempre curioso com muito imaginação, mas não gosto também quando é simplesmente jogada na história...rs

    Abraços

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  5. Eu li toda a série, inclusive já reli os 2 primeiros livros e com certeza essa foi uma das melhores séries que já li, ou talvez até a melhor. Tudo bem que isso é uma questão muito pessoal, talvez pelo fato de eu gostar muito do universo essa série me atraiu tanto. Nunca senti essa falta de enredo.

    Quanto a questão de que o primeiro livro é melhor que os outros, acho que é pelo fato de no primeiro livro você ainda estar se surpreendendo com o universo criando por Adams. Já nos outros livros você já está familiarizado com tudo aquilo.

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